A revolução alemã - o campo de batalha (Pierre Broué)
- Editor MRI
- 10 de nov. de 2019
- 14 min de leitura

A Revolução Alemã
O Campo de Batalha (Capítulo 1)
Pierre Broué
Tradução de Vânia Freitas
Revisão de Giulia Molossi Carneiro
“Atualmente, existe um soldado para cada cinco pessoas, em alguns anos, deverão ser uma a cada três; em 1900, o exército, que era, até o momento, o elemento prussiano mais proeminente na Alemanha, será majoritariamente socialista. Isso está acontecendo inevitavelmente. O governo de Berlim sabia, no entanto, estava impotente diante desse avanço.”
Assim, Friedrich Engels, o companheiro de armas de Marx, e cofundador da ciência socialista, escreveu, no início da década de 1890, em sua análise sobre a perspectiva do movimento dos trabalhadores alemães. Ele previu apenas um sério e remanescente obstáculo - a guerra:
Uma guerra mudaria tudo (…) Mas se ela estiver a ponto de eclodir (…), temos a certeza de uma coisa: esta guerra, na qual 15 a 20 milhões de homens armados matariam uns aos outros e devastaria a Europa de uma maneira jamais vista anteriormente, deve provocar, no preciso momento, ou a vitória do socialismo, ou perturbar a velha ordem das coisas a tal ponto e deixar para trás uma pilha de ruínas que a velha sociedade capitalista parecerá, então, mais absurda do que nunca. Neste caso, a revolução socialista seria atrasada por dez ou quinze anos, mas apenas para triunfar sobre uma vitória mais rápida e radical. [1]
Para Engels, portanto, a Alemanha estava no centro do campo de batalha no qual o proletariado e a burguesia se enfrentariam em um conflito final.
Um país capitalista avançado
É de fato a partir do desenvolvimento, dentro do sistema capitalista, das forças de produção, do aumento numérico e da concentração do proletariado, do desenvolvimento da consciência de classe e de sua organização, que Marx e Engels esperavam as condições prévias para a vitória socialismo. De acordo com esta análise, no início do século XX, a Alemanha era um dos países mais avançados, no qual a previsão de vitória da revolução era mais próxima e realista.
A Alemanha experimentou uma profunda transformação econômica no final do século XIX e início do século XX. Seus recursos naturais em carvão, a base atual da economia industrial, a rápida expansão demográfica, culminando em uma população total de 67,8 milhões de habitantes em 1913, e seu longo e estável desenvolvimento comercial do qual acumulou o capital necessário para a revolução industrial, que colocou, em algumas décadas, a Alemanha o grupo dos países capitalistas mais avançados do mundo. Em 1913, a Alemanha produziu 190 milhões de toneladas de carvão, tornando-se o principal produtor mundial. Com a produção - que não supria as necessidades internas - de 27 milhões de toneladas de ferro, a Alemanha é o principal produtor europeu de ferro fundido e ferro. Suas minas de carvão e suas reservas de potassa - foram extraídos 10 milhões de toneladas em 1913 – levaram-na ao primeiro lugar no ranque na produção de sua indústria química. A partir de 1890, a Alemanha foi o primeiro Estado europeu a empenhar-se, em escala industrial, na exploração de novas fontes de energia, tanto de energia elétrica como de motores de combustão. Na véspera de 1914, isso impeliu a Europa à produção de aparelhos elétricos. Não somente a preponderância industrial alemã era tão evidente que, a este ponto, só poderia se comparar com a dos EUA, como também demonstrou uma notável capacidade na utilização de novas tecnologias e procedimentos. Nenhum outro país havia estabelecido um sistema de pesquisa científica tão intimamente associado às aplicações industriais: com seus laboratórios de pesquisa e instituições de ensino técnico, a Alemanha estava na vanguarda do progresso e da organização científica da produção. [2]
A economia alemã, assim como a britânica ou americana, pode servir para estudos da fase imperialista do capitalismo, embora o caráter tardio de seu desenvolvimento tenha a privado de um império colonial semelhante ao da França ou da Grã-Bretanha. Em 1913, o valor do seu comércio externo chegou a 22,5 milhões de marcos, o dobro da França e 85% do da Grã-Bretanha[3]. Ela tinha relações comerciais com o mundo todo, e é por todo o mundo que a Alemanha procura mercado para uma produção que seu mercado interno já não consegue absorver.
Uma revolução burguesa incompleta
O Estado alemão era muito recente. Por muito tempo, foi uma questão restrita aos “alemães”. O movimento dos nacionalistas que abalou a Europa no século XIX, parecia que, em 1848, estava levando a Alemanha ao caminho da realização revolucionária da unidade nacional. Mas a burguesia alemã não tinha a audácia e nem tampouco a confiança como a burguesia francesa de 1789. Ameaçada pelo movimento do proletariado que estava tomando forma na extrema esquerda do movimento democrático, preferia a segurança por detrás dos muros do estado monárquico ao invés de uma aventura popular democrática. Entre o liberalismo político e os lucros garantidos pela unificação do país sob o domínio prussiano, ela fez a sua escolha. Acredita-se que a unificação da Alemanha aconteceu entre os anos de 1852-1857 “sobre carvão e ferro”[4], e que “Saint Manchester foi o padrinho no batismo do novo Reich”. Mas foi o exército prussiano, liderado por Bismark, que registrou a Alemanha na realidade das fronteiras e direitos. De certa forma, a Prússia gravou na Alemanha unificada a marca de seu duplo aspecto, da burguesia triunfante mais atenta na busca do lucro do que nos “jogos estéreis” da política, e da aristocracia rural do Leste, os junkers, com seus capacetes e botas, cuja arrogância e poderio militar faziam a Europa tremer após a década de 1860.
Este duplo aspecto era notório na complexidade da Constituição Imperial. O Reich não era um estado unitário; era uma federação composta por 25 estados - da Prússia, com mais da metade da população e nove décimos dos recursos minerais e das minas, além de recursos metalúrgicos; os minúsculos 50.000 habitantes, no caminho da Bavária, Saxônia e Württemberg com alguns milhões de habitantes, além das ‘três cidades’ de Hamburgo, Bremen e Lübeck. [5] Cada um desses três estados manteve a sua própria Constituição. A Prússia tinha seu rei, o qual era também imperador da Alemanha. Bavária, Saxônia e Württemberg tinham seus próprios reis, Baden e Hesse, seus Grão-Duques, e as cidades livres seu Senado. Cada um tinha assembleias legislativas com uma câmara superior nominada, e uma inferior eleita. O sistema eleitoral variava de um estado para o outro: Württemberg adotou o sufrágio universal, enquanto Baden concedeu direito de voto a quem está em situação regular perante a administração central. Na Bavária e Hesse, o voto era permitido mediante o pagamento de imposto. O Landtag [parlamento] na Prússia foi eleito por um complicado sistema de “classes” no qual os eleitores foram agrupados de acordo com as suas riquezas. [6] Em 1908, na cidade de Cologne, este mesmo sistema atribuiu o mesmo peso eleitoral de 370 eleitores ricos da primeira classe ao de 22.324 eleitores da terceira - da mesma forma, na 58ª sessão de Berlim, em 1903, deu para certo HerrHeffte, um produtor de salsichas e único eleitor da primeira classe, o direito de formar uma classe só para ele. [7]
O governo imperial era encarregado dos assuntos comuns: negócios estrangeiros, exército e marinha, correios e telégrafo, comércio, alfândega e comunicações. O imperador, que detém poderes muito amplos no campo do executivo, delega esses poderes a um chanceler do império, que é responsável perante ele. O poder legislativo foi dividido entre o Bundesrat [Conselho Federal], composto por delegados dos estados, e Reichstag, a assembleia nacional eleita por sufrágio universal. Na prática, a forma como as fronteiras constitucionais foram traçadas (favorecendo os eleitores rurais), o hábito de realizar as eleições nos dias úteis (inviabilizando a presença de muitos eleitores assalariados), candidaturas ‘oficiais’, e a falta de pagamento para os deputados limitaram o alcance do princípio eleitoral. Os poderes do Reichstag eram restritos: eles não podiam iniciar a legislação, nada poderia passar sem que antes tivesse sido acordado com Bundesrat, e não podiam destituir o chanceler, mesmo quando a maioria dos membros se opusesse a ele. [8]
Este regime - nem parlamentar e nem democrático - era caracterizado, inclusive, por posições dominantes da Prússia no governo imperial. O rei da Prússia era o imperador, o Chanceler do Império é o Primeiro Ministro prussiano. Os dezessete delegados prussianos do Bundesrat poderiam impedir qualquer medida que desagradasse o governo, do qual receberam um mandato imperativo. [9] Nada podia ser feito fora do que era acordado com o governo, o qual era, em si mesmo, o produto do sistema eleitoral de “classe” no parlamento prussiano. A Prússia continuou a ser o baluarte dos junkers guerreiros aristocratas. O corpo de oficiais era uma orgulhosa casta de guerreiros, que mesclava a arrogância de um barão feudal com a superioridade de um técnico, pessoalmente subordinados ao imperador, convencidos de que são os guardiães de uma missão sagrada de defesa do Estado. Os junkers formavam a maioria do alto escalão no Estado, e seus ideais prevaleciam sobre a hierarquia militar. O mesmo se aplica à burocracia imperial. A maioria dos funcionários públicos federais eram prussianos, moldados na mesma forma que os líderes militares, os quais compartilhavam a arrogância e a concepção de autoridade. Era para esta casta que o imperador poderia conceder poder absoluto no decreto da lei marcial, declarando um estado de sítio, o qual suspenderia todas as liberdades e garantias constitucionais, estabelecendo uma verdadeira ditadura militar.
Uma sociedade pré-Socialista
Na verdade, esta estrutura política foi um enorme anacronismo em relação à evolução social do país: uma das contradições que tornam a revolução necessária. A estrutura social da Alemanha apresentava todas as características de uma sociedade pronta para o socialismo. Em 1871, um terço da população alemã vivia nas cidades e, em 1910 esse número saltou para dois terços. A população, cuja maioria esmagadora consistia em trabalhadores, estava concentrada em uma grande cidade, a qual em 1910 tinha mais de 200.000 habitantes. A grande Berlim tinha 4.200.000; Hamburgo: 930.000; Munique e Leipzig: 600.000; Cologne 500.000; Essen e Düsseldorf entre 300.000 a 350.000 e Bremen e Chemnitz entre 250.000 e 300.000. [10]
Na Alemanha central e meridional havia diversas pequenas e médias propriedades rurais, mas em todo o território havia 3.3 milhões de trabalhadores agrícolas; e, as maiores propriedades, cujos tamanhos variavam entre 369 hectares e acima de 1.000 hectares cada, cobriam um quarto de toda a área cultivada. [11] Essa sobrevivência de nível medieval criou a possibilidade de aliança, tão cara aos marxistas, entre o proletariado urbano e os pobres camponeses, o proletariado rural.
Desapropriar a burguesia média, monopolizar os instrumentos de produção e concentrar a economia apenas nas mãos de alguns magnatas da indústria, aparentaram criar as condições perfeitas para a socialização da indústria. A indústria de minérios foi dominada por Emil Kirdorf, o presidente das Minas de Gelsenkirchen e diretor do sindicato do carvão de Rhineland- Westphalia, que, em 1913, controlava 87 por cento da produção de carvão. [12] O konzern de Fritz Thyssen era um modelo de concentração vertical e possuía minas de carvão, minério de ferro, altos-fornos, laminadores e indústrias metalúrgicas. Krupp empregava mais de 70.000 trabalhadores, dos quais mais de 41.000 trabalhavam em seus estabelecimentos somente em Essen, uma cidade realmente fechada, com suas próprias ruas, polícia, brigada de incêndio e 150 quilômetros de ferrovia interna.[13] Na indústria química, a Badische Anilin empregou mais 10.000 trabalhadores em Ludwigshafen.[14] O restante da produção química era controlado por duas empresas, cuja fusão em 1916 levou ao surgimento de I.G. Farben. [15] Os instrumentos elétricos foram dominados pela Siemens e Rathenau’s AEG, que empregaram 71.000 trabalhadores em dez fábricas na região de Berlim. Duas empresas de navegação, a Hamburg-Amerika Line e a Norddeutscher Lloyd eram responsáveis por 40 por cento do transporte marítimo. [16] Exceto no Estados Unidos, em nenhum lugar a fusão de capital financeiro e industrial foi tão profunda: os bancos dominam a atividade econômica e 74% da atividade bancária estava concentrada em cinco grandes instituições de Berlim. [17]
Os magnatas - Kirdorf, Thyssen, Krupp, Hugenberg, Stinnes, von Siemens, Rathenau, Ballin e Helfferich - formavam o alto e fino escalão, cerca de 75.000 chefes de família que representavam em torno de 200.000 a 250.000 pessoas; os quais, podemos considerar, de acordo com Sombart, como a rica burguesia cuja renda anual ultrapassava os 12.500 marcos. A burguesia média era composta por 650.000 chefes de família e entre 2 a 2.5 milhões de pessoas cuja renda anual girava em torno de 3.000 a 12.000 marcos. Essas classes altas, as classes dirigentes não chegavam a 5% da população. No outro extremo da escala social, Sombart calculou que, em 1907, havia 8.64 milhões de trabalhadores industriais, 1.7 milhões de assalariados no comércio e transporte e 2.3 pequenos trabalhadores industriais e comerciais, resultando num total de 12.5. Ele chegou à conclusão de que o proletariado, no amplo sentido do termo, incluindo mulheres e crianças, constituía cerca de 67 a 68 por cento da população total. No final de seu estudo sobre a sociedade alemã, Edmond Vermeil declarou que ‘na véspera de 1914, a Alemanha de Wilhelm II era um país com três quartos da população composta por proletariado. [18]
O aumento geral do nível de vida beneficiou, somente até 1908, uma camada relativamente fina de trabalhadores altamente qualificados, uma “aristocracia operária” [19] cujo papel nem sempre é conservador, pois muitos educadores e organizadores socialistas surgiram de suas próprias fileiras. Contudo, o proletariado alemão não era mais composto por um grupo de trabalhadores imaturos, miseráveis e prostrados que lotava as fábricas no início da revolução industrial. Relativamente educados, familiarizados com a técnica e com as máquinas, com um ótimo senso de trabalho e responsabilidade coletiva, o gosto pela organização; o proletariado alemão eram trabalhadores modernos, capazes de defender seus interesses imediatos, assim como de dedicarem-se à atividade militante, e de tomar consciência, diante de uma sociedade que os quer fazer meros instrumentos, que sua solidariedade os torna uma força capaz de transformar suas vidas e as dos pequenos burgueses esmagados pela concentração capitalista e dos quais acreditam, por qualquer razão, que podem fazer aliados.
Guerra ou revolução
Por suas características gerais como país de capitalismo avançado, bem como pelas características específicas de sua evolução e estrutura política, a Alemanha constitui um campo de batalha favorável às lutas dos trabalhadores. Não só o proletariado é a única força capaz de lutar pela conclusão da revolução democrática, a destruição do poder anacrônico da aristocracia fundiária, os privilégios do exército e da burocracia estatal, mas no próprio curso dessa luta, ele é inevitavelmente levado a solicitar a sucessão das classes dominantes e reivindicar o poder para si mesmo em nome de todos os explorados. A luta pela democratização da vida política e pela extensão do sufrágio universal exigia a quebra da estrutura constitucional: exige uma luta de classes que só poderia terminar em uma batalha armada e na violenta destruição do corpo de oficiais, o baluarte do Estado. O artigo 68 da Constituição expressava claramente sua própria essência, uma vez que excluía a hipótese de uma transformação pacífica por via parlamentar, sendo, na mesma época, o oposto sugerido pelo avanço da estrutura política na Grã-Bretanha. Deste ponto de vista, as condições – militar, social e política – para a conquista da unidade alemã, os esforços de Bismark para preservar tanto o poder dos junkers quanto o campo de expansão de operações da burguesia, fizeram com que a Alemanha fosse privada das válvulas de segurança que operaram no desenvolvimento de outros países: uma estrutura política baseada no sufrágio universal, parlamentarismo e ideologia democrática. Em outras palavras, as regras da Alemanha privaram, a si mesma, dos meios mais eficazes de proteção dos bens capitalistas.
A posição internacional do imperialismo alemão sofria da mesma insegurança. O desenvolvimento industrial da Alemanha capitalista ocorreu em um período em que as riquezas mundiais estavam quase todas divididas; e, nesse sentido, o imperialismo alemão estava desprovido das mesmas válvulas de segurança, a saber, mercados no império colonial dominados por outros poderes. Os historiadores, normalmente, enfatizam o papel da competição anglo-germânica como um dos principais fatores que culminaram na Grande Guerra. De fato, de 1890 em diante, a Grã-Bretanha experimentou os primeiros sinais do declínio de sua hegemonia mundial. A produção dos Estados Unidos e da Alemanha ultrapassaram-na em diversos departamentos. Suas exportações estavam, gradualmente, sendo direcionada a países industrialmente subdesenvolvidos e, dessa maneira, a Grã-Bretanha se deparou com a indústria alemã. A Alemanha, o segundo Estado mais industrializado do mundo, cuja vitória era praticamente garantida em condições de livre concorrência, no entanto, a maior parte do mundo estava fechada para sua expansão. E, ao mesmo tempo, o império colonial de que precisava não seria construído sem que houvesse luta. É deste ponto de vista que devemos considerar a rivalidade anglo-germânica no campo de armamentos navais, assim como a oposição sistemática da diplomacia britânica ao estabelecimento da hegemonia alemã na Europa: a aposta na luta era um mundo muito pequeno para as necessidades dos protagonistas. Esta luta surgiu da própria necessidade de expansão do capitalismo e a guerra era inevitável na medida em que a divisão do mundo estava concluída e a pressão do recém-chegado, imperialismo alemão, requer o seu questionamento. Desde o início do século, a escolha estava entre guerra civil e revolução mundial ou guerra imperialista, que, como previsto por Engels, poderia, por sua vez, transformar-se em revolução e guerra civil.
Nacionalismo ou Socialismo
De qualquer forma, é neste sentido que em 1912, o Congresso da Internacional Socialista, em Basiléia, redefiniu, com uma declaração que delineava as funções do internacional, seus partidos constituintes e da classe trabalhadora de cada país, no caso de eclodir uma guerra:
Se a guerra for deflagrada, as classes trabalhadoras dos países afetados, assim como seus representantes parlamentares, têm o dever de mobilizar forças para evitar o início das hostilidades, com o apoio das atividades de coordenação do gabinete internacional, aplicando os meios que mais parecerem eficazes, os quais, evidentemente, variarão de acordo com o maior ou menor dano que a luta de classe pode causar a situação geral da política. Se, a despeito dos esforços, a guerra eclodir, deve buscar, ativamente, o fim da batalha, e tentar com todas as suas forças explorar a crise político-econômica causada pela guerra a fim de levantar o povo para acelerar a abolição do domínio da classe capitalista. [20]
As classes dominantes na Alemanha, confrontadas com esta posição socialista, internacionalista e proletária, em um país cada vez mais mecanizado, homogeneizado e proletarizado, onde o proletariado industrial ocupa uma importante posição, foram obrigadas, sob pena de morte “reconciliar o proletariado com o Reich” – utilizando a frase de Vermeil [21] – convencendo-o de que era parte integrante da comunidade nacional. Este é o significado dos esforços despendidos pelos apóstolos do “cristianismo social”, assim como monsenhor Ketteler ou o reverendo Stocker, do “socialismo nacional” de Friedrich Naumann, ou a política social de Wilhelm II. [22] É este o papel da ideologia nacionalista, com base no sentimento nacional febril e ansioso de um povo que, anteriormente, havia lutado pela unidade nacional vendo esta unidade sendo-lhe concedida, pelo orgulho de suas gigantescas conquistas econômicas, pela cultura superior de ‘um povo escolhido’, e pelo sentimento de frustração de um poder que chegou tarde demais para a divisão do mundo. Essa mensagem foi transmitida pela educação, imprensa e por meio de propagandas.
Edmond Vermeil mostrou como o socialismo nacional e o antissemitismo de Hitler tinham suas raízes nos esforços das classes dominantes para arrancar a massa proletária de qualquer ideologia revolucionária e internacionalista. Desde o início do século XX, o antissemitismo (o qual August Bebel chamou de “o socialismo dos tolos”) tinha se tornado o meio para desviar a raiva da pequena burguesia, que havia sido massacrada pelo desenvolvimento do grande capital e estavam ameaçados de se tornarem proletários. Na Alemanha, a classe dominante não tinha outros meios de viver, a não ser avançar para conquistar o mundo; assim como não tinha como superar o proletariado, mas, sim, liderá-lo - como Vermeil relatou – “em meio ao nacionalismo fanático”. [23]
Os marxistas consideraram que os primeiros estágios para a revolução socialista na Alemanha foi a luta para conscientizar o proletariado, e a organização destes como classe no partido socialista dentro uma seção da Internacional. No entanto, é indiscutível que o otimismo de Engels poderia ser justificado pelos sucessos alcançados ao longo do caminho; e, em primeiro lugar, na construção desse grandioso edifício operário, o Partido Social-Democrata Alemão, como era antes de 1914.
Notas de Rodapé
1. F. Engels, Socialism in Germany, in K. Marx and F. Engels, Collected Works, Volume 27, Moscow 1990, pp. 240–5.
2. P. Renouvin, L’Empireallemand de 1890 a 1918, Volume 1, pp. 11–25.
3. Ibid., p. 17.
4. Uma paródia da observação de Bismark de que a Alemanha seria unificada por ‘ferro e sangue’. [Translator’s note]
5. Renouvin, Volume 2, op. cit., p. 104.
6.Ibid., pp. 105–6.
7. A classic example, taken from H. Moysset, L’esprit public en Allemagne vingt ans après Bismarck, Paris 1911.
8. Renouvin, Volume 2, op. cit., p. 107.
9. Ibid., p. 109.
10. Renouvin, Volume 1, op. cit., pp. 69–70.
11. Ibid., p. 71.
12. Ibid., p. 31.
13. G. Raphael, Krupp et Thyssen, Paris 1925, p. 211.
14. Renouvin, Volume 1, op. cit., p. 27.
15. C. Bettelheim, L’Économie allemande sous le nazisme, Paris 1946, p. 67, n. 2.
16. Renouvin, Volume 1, op. cit., pp. 28, 65.
17. Ibid., pp. 32-3.
18. E. Vermeil, L’Allemagne contemporaine, sociale, politique, culturelle (1890–1950), Volume 1, Paris 1952, pp. 92–4.
19. Henri Burgelin relata que “é possível que algumas categorias de trabalhadores não experimentaram o real aumento na qualidade de vida” (La Société allemande, 1871–1968, Paris 1969, p. 91). Desde 1934, nenhum novo estudo abordou o material tratado no trabalho de J. Kuczynski. Die Entwicklung der Lage der Arbeitschaft, Basel 1934.
20. Texto da emenda movida por Lenin e Luxemburgo no Congresso de Stuttgart, em J. Braunthal, Geschichte der Internationale, Volume 1, Hanover 1961–3, pp. 370, 372.
21. Vermeil, op. cit., p. 114.
22. Ibid., pp. 101, 104.
23. Ibid., p. 114.
Комментарии