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A Terceira Internacional (François Vercammen)



A Terceira Internacional

(21 de março, 1989)

François Vercammen

Tradução de Moisés Rech

Revisão de Pedro Barbosa



Há setenta anos, Lenin fundou a Internacional Comunista e 24 anos mais tarde ela foi dissolvida por Stalin.


Desde a sua origem, o movimento operário tem sido internacionalista de três maneiras: solidariedade internacional durante as lutas; estabelecimento de uma sociedade socialista a nível mundial; e, portanto, a necessidade de implementar uma estratégia internacional, graças a uma organização internacional, da qual as partes nacionais seriam as "seções".


Ao fundar, setenta anos atrás, a Internacional Comunista (IC) – ou Terceira Internacional, Lenin, Rosa Luxemburgo, Trotsky, Clara Zetkin, Bukharin, Radek –, continuaram o trabalho de Marx e Engels. Estas foram conduzidas sobre a base da Primeira Internacional (1864) e da Segunda Internacional (1891).


FUNDAÇÃO


Oficialmente fundada em março de 1919, a Internacional Comunista nasceu de uma dupla experiência decisiva do proletariado internacional (essencialmente europeu à época): a primeira guerra entre as potências imperialistas (1914-18) e a primeira vitória de uma revolução operária socialista (Rússia, 1917). Estes dois eventos colossais anunciaram a morte dos partidos socialistas (social-democratas) e de sua Internacional (a Segunda).


A fundação, na época, de novos partidos – doravante denominados "comunistas" – e sua unidade em uma nova Internacional não constituíram um ato divisor e arbitrário. Ao contrário do que muitos líderes de Partidos Comunistas afirmam hoje! Essa base procedeu da necessidade de manter o marxismo revolucionário contra o reformismo pró-capitalista, para definir um novo programa que refletisse a nova era do capitalismo e da luta de classes.


A vitória da revolução socialista na Rússia e o início da revolução alemã haviam mostrado o caminho. A partir de 1916-17, o capitalismo vacilou, sobretudo onde a burguesia estava perdendo a guerra. O sopro da vitória na Rússia foi o fim: uma aliança de dois países socialistas, URSS-Alemanha, teria inaugurado uma nova era histórica. Entre 1919 e 1922, a Internacional Comunista realizou quatro congressos. Resumindo a experiência do movimento operário revolucionário por meio século, educou e preparou uma nova geração de quadros comunistas para o objetivo de uma vitória de curto prazo da revolução socialista mundial.


Infelizmente, o fracasso em tomar o poder na Alemanha em 1923 significaria o fim desse objetivo. As consequências seriam incalculáveis. Isolamento da URSS e, a partir daí, ascensão da burocracia stalinista; novo boom no capitalismo e renascimento inesperado da social-democracia, em particular através do movimento sindical em expansão.


STALIN CONTROLA A INTERNACIONAL COMUNISTA


A casta burocrática liderada por Stalin foi erguida sobre a base anticapitalista do regime de outubro (propriedade coletiva dos meios de produção, monopólio estatal do comércio exterior, novo aparato de Estado). Mas a sua consolidação "em um só país" levou cada vez mais a uma política de "ordem" no interior e, no exterior, em direção à estabilização internacional e, portanto, a um acordo com o imperialismo. Para essa casta, qualquer luta revolucionária no mundo parecia uma ameaça à sua política e à sua própria existência. Qualquer nova vitória socialista-revolucionária criaria de fato uma nova fonte de contaminação que escaparia dela. O slogan do "socialismo em um só país", lançado por Stalin em 1924, para a surpresa de todos, não significou nada mais do que esse grito do coração de burocratas: "Não à luta pela revolução socialista mundial!".


A conclusão organizacional era dada como certa: a Internacional Comunista deveria ser colocada a serviço dessa política de estabilidade, portanto subordinada à burocracia russa.


A greve geral na Inglaterra (1926) e a revolução chinesa (1925-27) foram as primeiras vítimas dessa política. De cada vez, o Partido Comunista será obrigado a se subordinar à burguesia – ou à burocracia social-democrata. Pior ainda: quando, a partir de 1928, o nazismo iniciou sua ascensão na Alemanha, Stalin recusou a frente única com a social-democracia (qualificada como "social-fascista"). Pelo contrário, o Partido Comunista alemão receberá esta instrução excêntrica: primeiro destrua a social-democracia, e permita o advento de um governo de Hitler. Então viria a vez dos comunistas.


ZIG-ZAG


Por que essa política catastrófica? Porque Stalin e a burocracia soviética, defendendo seus privilégios de casta, não raciocinam mais como internacionalistas e revolucionários. Pelo contrário, eles querem paz com o imperialismo. Em troca, isso exige de Stalin e de "sua" Internacional Comunista (com seus partidos comunistas ao redor do mundo), respeito pela ordem capitalista.


Portanto, Stalin tentará, em um mundo capitalista dilacerado por contradições econômicas, sociais e políticas cada vez mais violentas, "salvar a URSS" às custas do proletariado internacional. Sua linha política de 1933 mostra uma incrível série de ziguezagues, que o deixam atordoado.


Antes de 1933, o imperialismo britânico era considerado "o principal inimigo": uma vitória de Hitler, portanto, pouco importaria deste ponto de vista! Foi só mais tarde que Stalin compreendeu a ameaça diretamente militar que o nazismo representava para a URSS. Mudança de aliança, portanto, depois de 1933: prioridade à França, tanto em competição com Hitler quanto com a Grã-Bretanha. Assim, o PCF votou os créditos militares do governo Laval (recebidos com grande pompa em Moscou), em 1934.


A Internacional Comunista, em seu 7º congresso (1935), generaliza essa linha, conhecida como "frente popular": a partir de agora, a tarefa prioritária nos países imperialistas, não é mais a revolução socialista: é a defesa da "democracia”, em aliança com a burguesia dita “antifascista”. Assim, quando a revolução eclode na França e, na Espanha, assume a forma de uma guerra civil, Stalin ajudará o campo republicano enquanto esmaga a revolução socialista – inclusive pelo assassinato das forças revolucionárias (anarquistas, o POUM, a esquerda socialista). Porque a prioridade é: dar garantias à aliança "democrática" com a burguesia francesa!


Em 1938, a ameaça da revolução socialista desapareceu na Europa Ocidental. O proletariado está profundamente desmoralizado: o campo está livre para a guerra entre potências imperialistas. Mas, primeiro, estas concordarão entre si em permitir que Hitler pegue a URSS pelo pescoço. É Munique! Stalin, sentindo o perigo, virou-se: o fascismo não era mais o principal inimigo. Pelo contrário, sob o disfarce de uma linguagem pseudo-leninista que fala (novamente) da transformação da próxima guerra em uma revolução socialista, o 7º Congresso da Internacional Comunista é colocado no armário: Stalin une forças com Hitler (1939) na esperança de prevenir assim a agressão nazista. A desordem no interior da Internacional Comunista e dos partidos comunistas está no auge.


Seu isolamento no seio da classe trabalhadora é total. Em 17 de junho, Molotov, ministro soviético dos Negócios Estrangeiros, enviou um telegrama de congratulações ao general Von Schulenberg, após a sua conquista da Bélgica: "as mais calorosas felicitações do governo soviético pelo magnífico sucesso do ano alemão!". Isso não impedirá o ataque relâmpago do exército alemão, em junho de 1941, que levará a URSS à beira do abismo.


DISSOLUÇÃO


Se, desde 1935, a Internacional Comunista não realizou mais um congresso, não devemos acreditar que o Partido Comunista e dezenas de milhares de comunistas honestos deixaram de atuar a serviço da classe trabalhadora e de objetivos verdadeiramente comunistas. Mas é isso que assusta Stalin e a burocracia. O fim da Segunda Guerra Mundial "arrisca" trazer novamente uma conjuntura revolucionária, como em 1917-1918. Tudo será feito para colocar os Partidos Comunistas à frente da Resistência, mas impedindo que o proletariado, na hora certa, derrube a burguesia. Os dirigentes comunistas mais combativos ficarão de fora, ou até desaparecerão "a tempo" no Gulag. Só haverá uma falha: Tito na Iugoslávia (e, nos países coloniais, Mao na China e Ho Chi Minh no Vietnã).


Para deixar isso claro, Stalin dará a garantia final à burguesia imperialista, com o objetivo de obter particularmente desta última a abertura da "segunda frente". Enquanto se reunia com Roosevelt e Churchill em Teerã (1943), a Internacional Comunista já estava oficialmente dissolvida: "a forma de organização escolhida pelo 1º Congresso da Internacional Comunista se enfraqueceu continuamente de acordo com o crescimento do movimento operário”! Mas o fundo político está em outro lugar: “Nos países do bloco hitlerista, a covardia fundamental, trata-se de contribuir para a derrota desse bloco. Nos países da coalizão, o dever sagrado (!) é apoiar de todos os modos os esforços militares dos governos desses países.” Adeus, revolução socialista. Assim foi feito!


La Gauche, 21 de março de 1989.

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