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Bolcheviques e feministas: em cooperação e conflito (Soma Marik)



Bolcheviques e feministas: em cooperação e conflito


Soma Marik

Tradução de Bruna dos Santos

Revisão de texto por Pedro Barbosa



As tentativas marxistas de integrar gênero na estrutura da luta de classes foram irregulares no movimento revolucionário russo. Um reducionismo de classe frequentemente atrasava os bolcheviques, mas as disputas com as feministas liberais, bem como a realidade objetiva de mais mulheres entrando na força de trabalho, levaram a mudanças. Mulheres ativistas assumiram a liderança nesta questão. A Revolução de 1917 viu um grau muito maior de envolvimento das mulheres. As mulheres trabalhadoras lideraram nos estágios iniciais da Revolução de Fevereiro, embora tal fato permaneça pouco reconhecido pelo pensamento histórico (incluindo o de esquerda) dominante. Ao mesmo tempo, generificar a prática de classe andava de mãos dadas com o aumento acentuado de questões de classe contra um feminismo indiferenciado, pois o feminismo liberal apoiava a guerra e o governo provisório burguês.


Marxismo clássico e libertação das mulheres


Gênero não era uma categoria conceitual frequentemente usada pelos social-democratas no final do século 19 ou início do século 20. Assim, é possível e necessário pontuar as falhas no pensamento marxista daquele período, especialmente quando algumas matizes do dogmatismo "marxista" citam Lênin ou Engels para abafar a luta feminina por igualdade. Mas também é necessário hoje, no centenário da Revolução Russa, ir além da condescendência acadêmica dos ataques liberais à direita; é importante olhar para as realizações concretas da ala esquerda do marxismo em relação à libertação das mulheres, com especial referência aos bolcheviques.


Ao contrário de muitos de seus rivais no movimento socialista, o marxismo começou com a proposição de que a emancipação da classe trabalhadora deveria ser uma tarefa da própria classe trabalhadora. Este princípio fundamental foi repetidamente mencionado por Marx e Engels, e também por seus herdeiros políticos imediatos (Marik 2008; Draper 1971). Ao mesmo tempo, a concepção de Marx do proletariado como uma classe universal, significava que a emancipação do proletariado teria que envolver uma revolta social total e a abertura do potencial para a emancipação de todos os povos oprimidos e explorados.


O princípio da auto-emancipação da classe trabalhadora significava que os marxistas rejeitavam os dois principais caminhos para o socialismo/comunismo oferecidos até então: iluminados pregando para toda a sociedade, na esperança de converter pessoas; e a construção de uma organização conspiratória na esperança de fazer uma revolução minoritária. Embora isso seja obviamente uma simplificação, está bastante próximo da realidade. Até a Liga dos Justos – grupo socialista ao qual Marx e Engels se uniram – tinha essas duas tendências. Isso é documentado em debate interno da Liga entre Wilhelm Weitling e Kriege de um lado, favorecendo a revolução instantânea, e Schapper e seus aliados, de outro, enfatizando o puro propagandismo (Forder et al 1970). Marx e Engels queriam construir um partido de trabalhadores revolucionários. Mas a classe trabalhadora na sociedade capitalista é frequentemente fragmentada e polarizada. A partir disso, Lênin enfatizou a necessidade de unificar e concentrar a consciência que os trabalhadores mais avançados adquiriam com a sua luta, e fundi-la com os avanços no conhecimento teórico. O profundo estudo de Lars Lih (2008) e os debates sobre o assunto sugeriram que era uma posição amplamente aceita entre os marxistas, mesmo antes de Lênin, que a mensagem socialista e o movimento organizado dos trabalhadores tinham que ser unificados [1]. Em “Que Fazer?” esse era um dos principais objetivos de Lênin.


No entanto, precisamos reconhecer que Lih vai a outro extremo no decorrer de sua derrubada do mito de que o “Que Fazer?” representava a essência do leninismo, e de que era absolutamente novo. Os argumentos não podem ser apresentados em detalhes aqui, mas Lênin introduziu uma prática política e uma estrutura institucional que não era idêntica à da social-democracia alemã (Marik 2017). Operando dentro da especificidade do contexto russo, onde havia total falta de direitos democráticos e o mínimo de liberdades civis, Lênin enfatizou a necessidade de um partido clandestino e de "revolucionários profissionais" – trabalhadores que seriam trabalhadores do partido em tempo integral, de uma forma que a social-democracia alemã não fez. Essas foram questões táticas importantes. Mas um elemento de princípio central estava misturado com a ideia de centralização de Lênin e sua defesa do revolucionário profissional. Lênin defendia que as diversas experiências da luta de classes tinham que ser centralizadas no partido revolucionário. Além disso, para ele, os trabalhadores, e não apenas intelectuais de classe média, podiam entender o socialismo através de suas próprias experiências de luta e exploração. Mas Lênin acreditava que a consciência de classe contínua dos trabalhadores avançados poderia ser concretizada na forma de um partido de vanguarda, se eles fossem liberados de sua carga diária na fábrica. Portanto, o revolucionário profissional pode, frequentemente, ser um trabalhador que foi deslocado da fábrica para o trabalho político em tempo integral.


Como a classe era fragmentada, fato que Lênin já reconhecia desde um estágio inicial, fazia sentido organizar os elementos politicamente mais conscientes separadamente. Mas isso tendia a excluir as mulheres, que muitas vezes eram vistas como elementos atrasados. O problema estava em não reconhecer, ao menos nos primeiros anos, que as mulheres deixavam de entrar no movimento socialista, ou mesmo nos movimentos sindicais organizados, não apenas devido ao seu atraso, mas também à dupla jornada que enfrentavam (Marik 2004: 13-50). O programa do partido, elaborado principalmente por Plekhanov e Lênin e adotado pelo Segundo Congresso em 1903, não incluía nem mesmo a demanda por remuneração igual por trabalho igual (1903: Segundo Congresso Ordinário 1978: 3–9).


Entretanto, avançando para 1917, os bolcheviques tinham cerca de 24.000 membros na véspera da revolução, dos quais 2.500 eram mulheres. Um estudo detalhado feito por Barbara Evans Clements (1997: 32) mostra que entre os membros, 62,1% dos homens eram de trabalhadores ou camponeses e apenas 36,8% das mulheres tinham a mesma origem. Há razões para essa diferença. Uma mulher russa da classe trabalhadora geralmente se casava por volta dos 18 anos e tornava-se mãe logo depois. Raramente havia homens dispostos a assumir os deveres de prover renda familiar, cuidar das crianças, etc. Sem a educação partidária para realçar o valor do trabalho feminino ou para organizar as mulheres separadamente, a igualdade formal dos camaradas no partido não poderia eliminar a desigualdade material da esfera privada. As mulheres que trabalhavam no partido, frequentemente, tinham um cenário familiar onde outros membros da família podiam cuidar das crianças (por exemplo, no caso de Alexandra Mikhailovna Kollontai), ou onde poderiam tomar a decisão de não ter filhos (como no caso de Nadezhda Konstantinovna Krupskaya). As mulheres da classe trabalhadora não costumavam ter tais condições. Além disso, a proibição social russa contra a participação feminina na política, dominada pelos homens, era mais rígida com mulheres camponesas e da classe trabalhadora do que com aquelas que vinham de meios mais abastados. O fato de ainda haver mais de 36% de mulheres com origem camponesa ou da classe trabalhadora é bastante notável.


Por que elas vieram? Primeiro, dentro das condições asfixiantes da Rússia czarista, o Partido Operário Social-Democrata Russo – POSDR (a sigla russa é RSDRP), apesar de seus problemas, proporcionava uma igualdade de gênero muito maior para as mulheres. Segundo, o marxismo não via a igualdade das mulheres como mera igualdade legal. O marxismo afirmava que a libertação das mulheres e a revolução social estavam integralmente conectadas, o que atraiu muitas mulheres ao partido.


O trabalho das mulheres dentro da estrutura do partido mostrou tanto a margem para sua mobilidade quanto as limitações que elas enfrentavam. Conforme o partido crescia em tamanho desde a Revolução de 1905, foram criados comitês municipais (e comitês distritais nas grandes cidades). Os secretários desses comitês eram, geralmente, funcionários do partido em tempo integral, com dois ou três secretários assumindo diferentes atribuições. O trabalho de propaganda (escrever folhetos, garantir a publicação de panfletos e diários, etc.) era geralmente dever dos secretários do sexo masculino. As mulheres que se tornaram secretárias eram técnicas, trabalhando para garantir o bom funcionamento da organização, enviando relatórios ao Comitê Central, etc. Podemos citar o caso de Elena Stasova, que foi a Secretária Técnica de Petersburgo por anos. Sua correspondência com Lênin mostra a troca de notícias organizacionais. Disputas políticas ou relatórios, no entanto, são tema das correspondências de Lênin com secretários masculinos, como Radin.


Essa estrutura vai até o topo. Krupskaya foi secretária organizacional do periódico Iskra e depois da fração bolchevique. Mas, com a exceção de Kollontai, a tomada de decisões políticas tendia a se concentrar nas mãos dos homens.


Programa e reflexões teóricas


Os social-democratas russos, como mostrou Lars Lih (2008), foram bastante influenciados pelos alemães. Mas na questão das mulheres, uma lacuna permaneceu por um longo tempo. Os alemães estavam cientes dos fardos adicionais que as mulheres enfrentavam; eles haviam elaborado um programa separado para elas em 1896. Eles também foram extremamente bem-sucedidos na organização de trabalhadoras através de estruturas autônomas (Marik 2003: 169–223). O programa da RSDRP de 1903 exigia interromper a nomeação de mulheres em setores prejudiciais à sua saúde, a abertura de creches em fábricas onde havia trabalho feminino, licença maternidade remunerada, etc. (1903: Segundo Congresso Ordinário 1978: 7). Isso sugere uma ênfase maior nas reivindicações que projetavam as mulheres como "fracas" e com "necessidade de proteção". Mas, de qualquer forma, o RSDRP levou a sério a implementação deste programa, que em parte refletia seu foco de classe e gênero. As greves de 1905-07 mostraram que as demandas das mulheres emergiam regularmente. Além disso, é preciso lembrar que as questões relativas à maternidade e às creches são importantes e vitalmente ligadas ao direito ao trabalho das mulheres.


O primeiro panfleto sobre mulheres trabalhadoras feito por uma social-democrata russa foi o Zhenshchina Rabotnitsa (A mulher trabalhadora), de 1901, identificado por Moira Donald (1982: 129–60) como sendo obra de Krupskaya. O panfleto descreveu as trabalhadoras como "atrasadas", mas reivindicava o trabalho partidário entre elas. Elisabeth A Wood (1997: 29) é bastante crítica em sua avaliação e argumentou que Krupskaya descreveu a trabalhadora primeiro e majoritariamente como um fardo para o envolvimento do marido no trabalho político. No entanto, mesmo o resumo que ela fornece permite uma interpretação um pouco diferente. Krupskaya argumentou que se as mulheres fossem mantidas fora do processo político, metade do exército da classe trabalhadora seria perdida, e que essa exclusão seria a razão pela qual as mulheres representariam um obstáculo à participação dos homens na política. Além disso, a descrição de Krupskaya de mulheres trabalhadoras, discutiu problemas concretos que elas enfrentavam como violência doméstica, desigualdade salarial, desnutrição, assédio no ambiente de trabalho, etc.


Após a Revolução de 1905, as feministas tentaram lutar pelos direitos das mulheres. Muitas delas se reuniram em 1908 para organizar um Congresso de Mulheres de toda a Rússia. O Congresso foi liderado por uma aliança das mulheres do Partido Constitucional Democrata (feministas liberais) e feministas pertencentes à intelligentsia radical. Wood lista cerca de cinco importantes organizações feministas ativas em 1905 (embora ela prefira o termo usado pelas mulheres russas, organizações pelos direitos das mulheres). Entre elas estavam as seguintes organizações: Women’s Union, Mutual Philanthropic Society, League for Women’s Equal Rights (frequentemente citada como Women’s League), Women’s Progressive Party, e Women’s Political Club (Wood 1997). Muitas das integrantes dessas organizações também estavam presentes no Congresso e seriam ativas também em 1917. Kollontai, uma menchevique de esquerda na época, reagiu buscando apoio do partido para organizar as trabalhadoras para ir ao Congresso. O Congresso de Mulheres encontrou defensoras bastante fortes nos tempos pós-soviéticos (Ruthchild 2010: 102–45). 1.053 pessoas foram registradas oficialmente no Congresso. Apenas quatro eram consideradas trabalhadoras. Na realidade, os dados são baseados em respostas a um questionário distribuído com atraso, no momento em que muitas das trabalhadoras já haviam saído.


No entanto, as estatísticas disponíveis mostram que as mulheres camponesas não estavam representadas, enquanto uma grande parte era da intelligentsia. Kollontai buscou o consentimento do partido, até então unificado, para organizar a participação no Congresso. O Comitê do Partido de Petersburgo se opôs à sua proposta de organizar as trabalhadoras e de participar da conferência feminista. No entanto, ela conseguiu o apoio do Comitê Central. As mulheres da base foram mais favoráveis, e o apoio dos trabalhadores têxteis acabou levando ao apoio do Bureau Central dos Sindicatos de São Petersburgo. Foram realizadas mais de 50 reuniões preparatórias de trabalhadoras. Curiosamente, naquele ponto da história da Rússia, o Congresso das Mulheres não viu tanto problema em algumas das demandas econômicas levantadas pela classe trabalhadora e pelas mulheres socialistas. A verdadeira disputa surgiu em torno das demandas políticas. As feministas radicais argumentavam que um sufrágio parcial seria um passo em direção ao sufrágio geral, enquanto Kollontai e seus camaradas enfatizavam que o sufrágio limitado estava sendo usado pela burguesia como um antídoto para as demandas democráticas da classe trabalhadora (Ruthchild 2010: 129–30).


Em 1909, Kollontai publicou seu livro “As bases sociais da questão da mulher”. Escrito em resposta ao Congresso das Mulheres, ela as criticou, mas estava disposta a se envolver com elas no debate. O livro foi lançado após a conferência e tinha argumentos interessantes a serem destacados. Enfatizou o caráter opressivo da família e questionou a visão predominante do RSDRP de que incluir as mulheres no trabalho produtivo transformaria suas condições. Ao mesmo tempo, sua análise enfatizou que o estado contemporâneo era o protetor dos casamentos "legítimos" e da família; portanto, enquanto o estado permanecesse intacto, a real libertação real das mulheres seria impossível (Clements 1979: 57–59).


A verdadeira libertação das mulheres, argumentou Kollontai, viria em uma sociedade em que as responsabilidades das mães e os deveres de cuidar das crianças fossem responsabilidades coletivas da sociedade. Portanto, sua própria definição de socialismo pretendia olhar para a sociedade e a política através de uma lente de gênero.


Com as feministas liberais, Kollontai tinha duas divergências claras. Primeiro, as feministas liberais exigiam direitos de voto para as mulheres nos mesmos moldes dos homens, o que envolvia qualificações de propriedade. Kollontai, no entanto, via que as mulheres proletárias deveriam marchar junto com homens proletários contra o estado czarista e a burguesia. Segundo, algumas feministas liberais rejeitavam as demandas protecionistas (creches, licença de maternidade etc.) pois as consideravam opostas à demanda por igualdade. Kollontai, por outro lado, sustentou que tais medidas eram essenciais para tornar iguais os desiguais, uma vez que as mulheres eram sobrecarregadas por esses deveres – não naturalmente, mas devido à estrutura social. Parece, no entanto, que as feministas leram e discutiram seus argumentos em uma extensão muito maior do que seus companheiros social-democratas (Ruthchild 2010: 142-43; Clements 1979: 56-81).


Organizando mulheres


Foi a partir da Revolução de 1905 que grupos relativamente maiores de mulheres estavam entrando no partido. Isso mudou a orientação do partido pela primeira vez. As feministas estavam tentando criar sindicatos apenas para mulheres. Isso levou os marxistas a se voltarem mais seriamente para as mulheres da classe trabalhadora. Quando algumas trabalhadoras foram eleitas como representantes da Comissão Shidlovsky, nomeada pelo governo czarista para investigar a tragédia do Domingo Sangrento [2], o governo lhes recusou as cadeiras. Isso levou a protestos de mulheres trabalhadoras. Em Ivanovo-Voznesensk, cerca de 11.000 trabalhadoras participaram de uma grande greve.


Kollontai desempenhou um papel importante nesse período. Participando da reunião inaugural do Women's Union, em 1905, ficou chocada com as mulheres socialistas que apoiavam as feministas liberais (Clements 1979: 44–45). Ela criticou qualquer ideia do feminismo transcendendo as fronteiras de classe e, em resposta, foi atacada pelas feministas liberais. No entanto, depois de participar de uma reunião de mulheres socialistas na Alemanha, ela estava convencida de que era necessário, dentro da classe trabalhadora, realizar um esforço especial entre as mulheres. Mas os camaradas do partido a acusaram de mostrar simpatia pelo feminismo, o que eles achavam prejudicial (Marik 2009: 3550-55). Mesmo entre as mulheres, Vera Slutskaya, uma bolchevique, se opôs a Kollontai. Mas em 1911–12, conforme as lutas entre os trabalhadores aumentavam, os bolcheviques começaram a organizar as mulheres. A liderança foi assumida pelas próprias mulheres bolcheviques. Quando o Pravda foi lançado, ele ocasionalmente continha itens específicos para mulheres. Então, por iniciativa das bolcheviques, foi lançada uma revista para trabalhadoras.


Eventualmente, alega-se que a iniciativa veio de Lênin (Cliff, 1987), mas isso foi contestado (Marik 1999: 765-66). A iniciativa partiu de Krupskaya, Inessa Armand, Anna Elizarova, Konkordiya Samoilova e outras. O periódico foi nomeado Rabotnitsa. Em sua carta para sua irmã mais velha, Elizarova, Lênin escreveu que Krupskaya escreveria a ela sobre a proposta de uma revista para mulheres. Isso levou à suposição de que Lênin teria sido a pessoa que tomou a iniciativa (Cliff, 1987: 101). Na verdade, Lênin escreveu apenas uma carta à Armand pedindo que ela trabalhasse na revista e outra para sua irmã Elizarova (Lenin 1964: 143; Elizarova 1923: 63). A palavra "nós" em uma carta de Krupskaya levou os escritores a supor que ela estava se referindo a si mesma e a Lênin. Mas Elwood mostra que uma cópia da carta nos arquivos de Okhrana é assinada por Armand e Krupskaya. As cartas de Krupskaya e Armand indicam que foram elas que pensaram seriamente sobre o periódico, enquanto os fundos vieram em parte dos amigos prósperos de Armand e em parte do dinheiro arrecadado pelos membros do conselho editorial que operavam na Rússia (Elwood, 1992: 118).


Entre Krupskaya e Armand, havia uma clara diferença de percepção. Armand era feminista, como mostra seu biógrafo Elwood. Krupskaya e Samoilova não eram. Mas elas trabalharam juntas para arrecadar fundos para a revista, com o Comitê Central Bolchevique dando apenas sua aprovação formal. O artigo de Krupskaya na primeira edição tratou sobre como as mulheres "atrasadas" deveriam ser mobilizadas. O artigo de Armand, por outro lado, destacou que a luta pelo socialismo seria fortalecida se as lutas das mulheres por direitos fossem apoiadas. Artigos conjuntos escritos pelas editoras do Rabotnitsa – notadamente por Krupskaya e Armand – discutiam a situação das trabalhadoras e sua “dupla jornada” (de tarefas domésticas e de cuidado com as crianças, além do emprego remunerado), bem como seu lugar na luta de sua classe. É possível destacar as diferenças entre as editoras; porém, observa-se também que a revista (que tinha sete edições em 1914) tendia a encobrir os abusos que as trabalhadoras sofriam por trabalhadores do sexo masculino, embora reconhecessem que as atitudes dos homens em relação às mulheres precisassem mudar. Elizarova, cooptada principalmente por causa de sua longa experiência como revolucionária profissional, tinha uma visão diferente. A maioria das editoras internas foi presa antes do lançamento da primeira edição. Elizarova levantou várias questões, mas muitas vezes estava em conflito com as editoras no exterior. Sua ênfase em atingir as “mulheres menos conscientes” significava que ela tendia a omitir os artigos mais teóricos e abstratos enviados por Armand, Krupskaya ou Ludmila Stal em favor de histórias, poemas e cartas de mulheres trabalhadoras. Além disso, como Kudelli, ela estava disposta a colaborar com os mencheviques e queria que Kollontai contribuísse, enquanto Armand, Krupskaya e Samoilova se opunham a isso (Turton 2007: 69–70).


No final de 1914, algumas mulheres se aproximaram dos bolcheviques. Dois autores de um grande estudo observaram que os bolcheviques responderam positivamente para ajudá-las a melhorar suas habilidades educacionais e organizacionais, embora alguns pareçam ter permanecido céticos sobre a habilidade das mulheres para organizarem-se e afastarem-se de sua subserviência tradicional (McDermid e Hillyar, 1999: 134-35).


Até 1917, os bolcheviques estavam divididos. O único artigo de um homem bolchevique em 1917 sobre questões femininas veio de N Glebov. Ele afirmava que diferentemente das mulheres burguesas, as mulheres proletárias não tinham exigências distintas dos homens. Mas Slutskaya e Kollontai, ambas no partido bolchevique em 1917, lutaram por uma estrutura para mulheres dentro do partido. Embora a demanda por uma organização autônoma tenha sido rejeitada, a mobilização de mulheres foi reconhecida como uma tarefa importante. O Rabotnitsa ressurgiu.


Se nos voltarmos para o trabalho de base, encontramos complexidades se desenvolvendo. Em 1905, durante a primeira revolução, surgiram demandas por salários mínimos. Mas a tendência era exigir um salário mínimo mais baixo para as mulheres do que para os homens. Mesmo em 1917, quando os sindicatos conseguiram obter salários mínimos, em Petrogrado, os homens recebiam cinco rublos, enquanto as mulheres recebiam apenas quatro. Apenas duas greves em Moscou levantaram a demanda de remuneração igual para homens e mulheres (Smith 1994: 141–68).


Mulheres na fração/partido bolchevique


Mesmo que apenas por razões táticas, bolcheviques e mencheviques tentaram recrutar mulheres nos anos seguintes a 1905 como um resultado de que havia um número crescente de mulheres da classe trabalhadora. Temos documentação limitada, especialmente sobre os mencheviques. No entanto, apesar da escassez de fontes publicadas, é necessário escrever sobre as mulheres bolcheviques, ao menos para remover a impressão de que aquelas que participaram das várias organizações socialistas eram originárias exclusivamente da classe média ou alta, especialmente da intelligentsia. Mesmo as mulheres que pertenciam à intelligentsia – incluindo ativistas e estudantes que desempenharam papéis importantes – são frequentemente ignoradas nas narrativas dominantes.


Nina Agadzhanova era uma dessas mulheres. Ela se juntou aos bolcheviques em 1907 como estudante, quando a primeira revolução começou a recuar, mas o impulso radical ainda permanecia. Em 1914, ela era membro do Comitê de Vyborg e do Comitê Municipal do Partido. Presa e exilada na Sibéria, ela escapou e voltou a Petrogrado em 1916, trabalhando sob um nome falso. Juntamente com sua amiga Mariia Vydrina, ela se envolveu na organização de greves e manifestações de trabalhadores do setor metalúrgico e de transportes. Eleita pelo distrito de Vyborg para o soviete de Petrogrado, Agadzhanova continuou a organizar e participar de lutas até a Revolução de Outubro.


Outra mulher foi Elena Giliarova, que se envolveu com os bolcheviques em 1915. Ela foi enfermeira da frente russo-turca, onde também atuou como propagandista dos bolcheviques entre as tropas, embora ainda não fosse membro do partido. Ela se juntou formalmente ao partido bolchevique em maio de 1917.


Petronelia Zinchenko veio de uma origem social muito diferente. Nascida em uma família pobre de camponeses, começou a trabalhar aos oito anos de idade. Ela possuía uma vasta experiência profissional e, em 1917, trabalhou na fortaleza naval de Kronstadt, fabricando uniformes para soldados. Em 1917, juntou-se aos bolcheviques e foi eleita para o soviete de Kronstadt. Falante de três idiomas, ela era uma propagandista eficaz. Em outubro, ela desempenhou um papel importante na manutenção do contato entre Kronstadt e a capital (McDermid e Hillyar 1999: 72–74).


Alekseeva, uma trabalhadora têxtil, juntou-se aos bolcheviques em 1909. Demitida por seu trabalho político em 1912, ingressou em uma indústria metalúrgica. Suas atividades políticas incluíam coleta de fundos, distribuição de livros e participação em greves. A abordagem sexista dos escritores soviéticos torna-se clara quando evidenciam, como o ponto alto de sua carreira, a passagem, em 1917, em que ela trabalhou como vigia e serviu chá em uma reunião que discutiu a Revolução de Outubro. Eles ignoram o fato de que ela participou ativamente de organizações da classe trabalhadora ao longo do ano (McDermid e Hillyar 1999: 74).


Anastasia Deviatkina juntou-se aos bolcheviques em 1904, e atuou desde os primeiros momentos de fevereiro, organizando e liderando um ato de mulheres trabalhadoras e esposas de soldados no Dia Internacional da Mulher. Deviatkina foi então eleita para o soviete local e também desempenhou um papel importante na criação de uma união das soldatki (esposas de soldados). Em outubro, ela esteve no Instituto Smolny, garantindo o contato regular da sede com toda a capital.


Por fim, houve mulheres que se juntaram aos bolcheviques em 1917. Uma delas foi Liza Pylaeva, que trabalhou em Petrogrado desde o início da guerra e entrou em contato com os bolcheviques através de seu irmão. Juntando-se ao partido em 1917, ela se envolveu na criação de um movimento de juventude.


A Revolução de Fevereiro, as mulheres e os bolcheviques


Embora, em 1917, 43% da força de trabalho fosse composta de mulheres, a falta de consciência de gênero entre os homens, que lideravam a maior parte dos sindicatos, significava que as lutas organizadas raramente priorizavam as condições especiais das mulheres. A pobreza, a menor escolaridade e a desvalorização devido à dupla jornada, significavam que existia "atraso" entre as mulheres. Mas essa não era uma condição natural. Pelo contrário, foi imposta por hierarquias sociais. Curiosamente, descobrimos que, quando as agitações eram espontâneas, as mulheres levantavam a questão de assédio/agressão sexual com bastante regularidade, como nas greves lideradas por mulheres em 1912 e 1913 em Moscou. Mas foi somente a partir de 1917 que os bolcheviques levaram o assunto a sério.


A maioria dos relatos da Revolução de 1917 menciona as mulheres em duas ocasiões: o início da Revolução de Fevereiro e o batalhão de mulheres que prometeu defender o governo provisório durante a insurreição de outubro. Mas as mulheres eram muito mais ativas do que sugere esse relato altamente tendencioso (e frequentemente repetido). A historiografia feminista fez muito para recuperar o papel das mulheres (Stites 1978; Bobroff 1974; McDermid e Hillyar 1999; Clements 1979; Goldberg Ruthchild 2010). Se nos afastarmos das narrativas centenárias que se concentram apenas nos trabalhadores do sexo masculino, mudanças consideráveis ocorrerão em nosso retrato da revolução. Uma vez que nos afastamos da noção de revolução como um golpe minoritário e observamos como as massas de trabalhadores estavam reagindo, torna-se importante olhar para mulheres e homens. Foi por causa do crescimento da força de trabalho feminina que não apenas os bolcheviques, mas também os mencheviques, tentaram alcançá-las em 1914 através de periódicos (como o Rabotnitsa e o Golos Rabotnitsy) destinados exclusivamente ao público feminino (McDermid e Hillyar 1999: 141).


Enquanto a guerra continuava, a agitação da classe trabalhadora crescia. A partir da segunda metade de 1915, as greves estavam aumentando. Crises alimentares, salários baixos e inflação atingiram tanto as mulheres trabalhadoras quanto as mulheres soldados e resultaram em uma maior consciência política. Alexander Shlyapnikov (1982: 118), líder bolchevique e metalúrgico, reconheceu esse fato, embora insistisse em supor que as ações das mulheres eram apolíticas. As greves tiveram um grande envolvimento de trabalhadoras industriais protestando não apenas em razão dos salários e da deterioração das condições de trabalho, mas também pela falta de respeito demonstrado a elas por capatazes e empregadores, além do assédio sexual, disfarçado de revista realizada por inspetores de fábrica. Mas tanto os ativistas de esquerda quanto as autoridades czaristas continuaram estabelecendo uma nítida distinção entre as "revoltas" do pão – que eles supunham ser tudo o que as mulheres eram capazes – e as lutas revolucionárias. Em dezembro de 1916 e janeiro de 1917, eram evidentes os sinais de crescimento de militância entre mulheres trabalhadoras em vários setores industriais. Nas fábricas de munições, as condições de guerra haviam criado um afluxo de mulheres, embora continuassem sendo minoria. Em dezembro de 1916, muitas delas se rebelaram, porque seus salários eram consideravelmente inferiores aos dos homens. Em janeiro de 1917, as trabalhadoras têxteis lideraram uma greve por cinco dias (Hasegawa 1981: 201–03).


As greves do Dia Internacional da Mulher de 1917, que derrubaram o czarismo, foram precedidas de uma greve de trabalhadores têxteis (principalmente mulheres) quando um proprietário de uma fábrica de Petrogrado tentou aumentar o turno de 12 para 13 horas. Algumas mulheres reagiram de maneira tradicionalmente dócil e estavam preparadas para seguir as ordens da administração, mas a maioria se recusou e forçou a retirada da ordem (McDermid e Hillyar 1999: 146–47). Também houve greves entre os trabalhadores metalúrgicos masculinos. Mas eles se apegaram principalmente às demandas econômicas. Foi precisamente a dupla jornada que as mulheres enfrentavam – trabalhando por longas horas na fábrica e tentando alimentar suas famílias – que as fez recorrer à militância "política". Além disso, o fato de que, durante a guerra, muitas famílias passaram a ser chefiadas por mulheres, permanece sem reconhecimento. Isso fez com que os salários das mulheres – longe de serem “suplementares” – fossem essenciais para a sobrevivência das famílias e, portanto, um fator importante por trás de sua politização.


Então, em 23 de fevereiro de 1917, foram principalmente as mulheres trabalhadoras que saíram às ruas e pediram aos demais que fizessem o mesmo. Os slogans que as trabalhadoras levantaram indicavam que elas não estavam travando uma batalha puramente econômica. Eles incluíam "Abaixo à guerra", "Abaixo aos preços altos" e "Pão para os trabalhadores". Também é significativo que as mulheres não tenham simplesmente iniciado um "motim". Elas pretendiam convencer os trabalhadores de outras fábricas, homens e mulheres, a juntar-se à greve. Elas usaram a violência, o que incluía jogar pedaços de gelo e neve em janelas. Se isso é visto como um sinal de "irracionalidade", então também é irracional impedir violentamente que "fura-greves" entrem em fábricas. Claramente, os homens se juntaram ao movimento porque também sentiam que a opressão da classe dominante havia ultrapassado todos os limites de tolerância. Sendo assim, é preciso ver as mulheres também como parte da vanguarda, e não simplesmente como uma "faísca" que incendiou o país.


Mas, como as memórias dos líderes bolcheviques masculinos mostram, eles não incentivavam as mulheres a ir além de um certo ponto na militância. Enquanto os bolcheviques buscavam o crescimento da militância, planejavam um grande show em 1º de maio. Apesar do crescimento maciço da força de trabalho feminina, elas estavam sendo ignoradas. De fato, foram algumas mulheres do partido que convenceram a hesitante liderança masculina a fazer um esforço no distrito da classe trabalhadora de Vyborg, realizando uma reunião sobre os temas relacionados à guerra e à inflação. Essas mulheres, que cooperaram com as mulheres do comitê inter-distrital, faziam parte de um círculo estabelecido pelos bolcheviques em Petrogrado, em reconhecimento à crescente importância das trabalhadoras para o movimento operário durante o período de guerra.


Kayurov, o influente metalúrgico e líder de Vyborg, apelou às mulheres em 22 de fevereiro para que não entrassem em greve no dia seguinte. Quando ele descobriu que elas haviam ignorado seu apelo, ficou irritado. Ele passou a demitir as mulheres com a alegação de que eram emocionais, irracionais e indisciplinadas. Ainda, como vimos, as mulheres não apenas demonstraram uma racionalidade no contexto da época, mas foram reunidas por mulheres da esquerda, incluindo Nina Agadzhanova e Mariia Vydrina. Elas organizaram grandes reuniões de operárias e esposas de soldados, greves nos locais de trabalho e manifestações em massa, buscaram armamento para armar as multidões, além de garantirem a libertação de presos políticos e a criação de unidades de primeiros socorros. Outras, como Anastasia Deviatkina, também estavam envolvidas no movimento, assim como algumas mulheres integrantes do Mezhraionka, uma pequena organização de esquerda liderada por Iurenev na Rússia e à qual estavam associados Trotsky, Lunacharsky e vários outros no exílio (Lilina et al. 1967: 318–19). Mas os folhetos que pediam uma greve geral também apareceram sob o nome dos bolcheviques do distrito de Vyborg e da Mezhraionka. Isto sugere que uma combinação de classe e gênero tem que ser levada em consideração. (McDermid e Hillyar 1999: 152). Como uma antiga fonte soviética sugeriu, os trabalhadores têxteis foram proporcionalmente mais mobilizados durante os cinco dias da Revolução de Fevereiro (McDermid e Hillyar 1999: 153). As mulheres lideraram manifestações e confrontaram soldados. A trabalhadora bolchevique Kruglova liderou os trabalhadores de sua fábrica; eles enfrentaram soldados do regimento de Novocherkassk e alguns cossacos. Quando um oficial disse aos manifestantes: “Vocês estão sendo liderados por uma baba [uma velha bruxa]”, Kruglova respondeu: “Não uma baba, mas uma irmã e esposa de soldados que estão no fronte” (Ruthchild 2010: 221). Com isso, os soldados e os cossacos abaixam suas armas. O apelo a um estereótipo de gênero foi combatido, e a ênfase nos laços de parentesco fez com que os soldados se recusassem a disparar.


No entanto, quando os delegados aos sovietes foram eleitos, as mulheres eram numericamente muito inferiores. Homens experientes dominaram as eleições para o soviete de Petrogrado e depois para os comitês de fábrica que começaram a aparecer um pouco mais tarde. Isso era fato mesmo nas indústrias onde as mulheres eram maioria da força de trabalho. Havia duas razões principais para isso: a responsabilidade contínua das mulheres pelas tarefas domésticas, especialmente com a escassez persistente; e a falta de confiança por parte das próprias mulheres em relação à quão longe elas poderiam avançar com uma política "consciente".


Organizando mulheres após fevereiro de 1917: generificando a consciência de classe


O radicalismo russo teve uma corrente feminista a partir do século 19. A Revolução de 1905 tinha visto o surgimento de diferentes tipos de organizações a favor dos direitos das mulheres. Algumas feministas, como Anna Kal'manovich, tinham conexões com os socialistas. Outras, como Anna Miliukova, eram liberais. No congresso de fundação do Partido Constitucional Democrata, ela argumentou a favor da inclusão do sufrágio feminino na plataforma do novo partido. Era um debate tempestuoso no qual ela era contrária a seu marido, o historiador e futuro líder do futuro do partido, Pavel Miliukov (Ruthchild 2010: 65). O primeiro Congresso de Mulheres da Rússia, no qual a participação de Kollontai foi discutida anteriormente, foi organizado e teve como público principal, as mulheres liberais. Enquanto várias posições foram adotadas, a luta pelo sufrágio foi sua plataforma central. Mas a posição dominante, liderada por mulheres que eram democratas constitucionais, pedia um sufrágio limitado, levando ao abandono social-democrata.


Os liberais, que detestavam qualquer ideia de revolução, agora avançavam para formar um governo provisório. Os socialistas moderados dos partidos Menchevique, Socialista Revolucionário (SR) e Socialista Popular aceitaram esse governo, pois de acordo com seu esquema, esta era uma revolução democrático burguesa na qual a burguesia deveria liderar.


Este Governo Provisório começou a trabalhar no projeto de eleições para uma Assembleia Constituinte. Ele criou restrições em relação aos judeus e tomou algumas outras ações. No entanto, quando o programa de governo foi anunciado em 3 de março, não havia referência ao sufrágio feminino. Alexander Kerensky, o único ministro socialista no primeiro governo provisório, afirmou em 11 de março que o sufrágio feminino teria que esperar pela decisão da Assembleia Constituinte, pois essa era uma mudança grande demais para ser realizada imediatamente. Em resposta, a Women's League organizou uma enorme manifestação de mulheres em Petrogrado. Embora o "sufrágio universal" tivesse sido prometido, houve uma recusa em declarar explicitamente que o "universal" também incluía todas as mulheres. A manifestação, com quase 40.000 pessoas, saiu da Nevskyi Prospekt, a rua principal de Petrogrado, para o Palácio Tauride, que era a sede tanto do governo e quanto do Soviete de Petrogrado. Elas se encontraram e pressionaram o soviete, cujos líderes prometeram apoiar os direitos das mulheres. Príncipe Lvov, chefe do governo provisório, aceitou o pedido de sufrágio depois da segunda delegação liderada pela veterana revolucionária Vera Figner, que havia sido libertada recentemente da prisão. No entanto, o direito de voto foi formalizado apenas em julho (Ruthchild 2010: 223–29).


Um fato secundário da manifestação de 19 março era a recusa das feministas de permitir que Alexandra Kollontai falasse. Quando ela tentou falar, foi empurrada nos degraus do Palácio de Tauride por algumas mulheres. Também vale a pena lembrar quando os socialistas foram condenados por serem contrários às feministas (liberais ou burguesas). No entanto, o sucesso dessa manifestação, que contou com a participação de um número considerável de trabalhadores, possivelmente teve um papel em convencer as lideranças socialistas do valor do que suas camaradas mulheres estavam dizendo.


Em 1917, o incansável trabalho das mulheres bolcheviques levou dezenas de milhares de trabalhadoras a ingressar no partido, entrando no movimento sindical e trazendo uma sensibilidade de gênero à luta pelo socialismo. Imediatamente após a formação do primeiro Governo Provisório sob o comando de Príncipe Lvov, a aliança menchevique-SR, que então dominou a classe trabalhadora, intermediou uma trégua de classe.


As mulheres bolcheviques trabalhariam em duas áreas para romper isso. Embora o governo provisório e a liderança do Soviete de Petrogrado tenham reconhecido que a inflação e a escassez de alimentos eram questões de importância crucial, eles não fizeram nada a respeito. Enquanto a guerra continuasse, esses problemas não poderiam ser resolvidos; mas o governo provisório burguês não terminaria a guerra e os mencheviques e os SRs não iriam além do governo provisório. Mas logo as mulheres começaram a levantar sua voz. As esposas dos soldados começaram a protestar contra a falta de melhorias. Em 11 abril, uma manifestação enorme destas mulheres foi ao palácio de Tauride, sede do soviete, mostrando que confiavam mais no soviete do que no governo provisório. Mas o líder menchevique, Dan, em nome do soviete, as repreendeu por estarem demandando dinheiro enquanto os cofres estavam vazios. Dan também se recusou a permitir que Kollontai, uma membra do soviete, falasse com as mulheres. Apesar disso, Kollontai falou com elas, ainda que não oficialmente, e as estimulou a eleger suas próprias delegadas para o soviete.


A partir daí, as mulheres bolcheviques estavam desempenhando um papel importante entre as soldatki. A primeira greve a romper a “paz civil” foi uma greve de quase 40.000 mulheres lavadeiras, exigindo uma jornada de oito horas e um salário mínimo. Elas foram sindicalizadas e lideradas por mulheres bolcheviques como Goncharova, Novi-Kondratyeva e Sakharova. A greve obteve uma vitória parcial após um mês. Mas então, o primeiro governo provisório entrou em colapso, em grande parte devido aos seus objetivos de guerra (que eram expansionistas), e alguns dos principais mencheviques e SR's do Soviete entraram em um governo de coalizão com ex-membros da Duma [3] determinados a continuar com o esforço de guerra. Para esse governo, a ação das lavadeiras foi um incômodo que colocou em risco seus planos para o país. Organizar as lavadeiras era difícil, pois elas estavam espalhadas por toda a cidade, em vez de trabalhar em fábricas grandes ou médias. A imprensa bolchevique relatou a greve com regularidade, e claramente a viu como um modelo de militância. Tudo isso indicou uma mudança de fato na atitude dos bolcheviques em relação às trabalhadoras. As mulheres também estariam envolvidas em lutas em outros setores. Elas estavam particularmente empenhadas em exigir aumentos salariais, melhores condições de trabalho (principalmente sanitárias), benefícios relativos à maternidade e abolição do trabalho infantil. Elas também estavam muito revoltadas com o assédio sexual que enfrentavam no local de trabalho e exigiam o fim das revistas físicas (Figes 1996: 368).


Quando Lênin voltou do exílio, uma de suas primeiras apoiadoras dentro do partido bolchevique foi Kollontai. Deve-se notar que Lênin estava inicialmente em minoria nos níveis de liderança do partido, tanto em relação às suas ideias sobre estratégia da revolução quanto na questão da unidade com os mencheviques. Quando ele voltou, os bolcheviques estavam de fato no meio de discussões com os mencheviques sobre a possibilidade de uma unidade. Kollontai também foi uma das primeiras a propor a criação de bureaus de mulheres.


Resistência à estrutura organizacional separada para mulheres


Os bolcheviques concordaram em separar de alguma forma o trabalho entre as mulheres por razões práticas. Seus rivais no movimento socialista, os mencheviques e os SR's, estavam inicialmente recrutando rapidamente, enquanto os bolcheviques, com sua insistência em um grau mínimo de educação política antes que um trabalhador pudesse ser recrutado, estavam ficando para trás. Portanto, o trabalho separado entre as mulheres foi considerado necessário para o desenvolvimento do partido bolchevique. Mas ainda havia considerável resistência ao trabalho especial, particularmente na questão de uma estrutura organizacional separada para as mulheres. As lideranças femininas bolcheviques, como Krupskaya, Kollontai, Samoilova, Stal e Slutskaia, insistiam que esse purismo teórico estava atrasando a luta de classes por dois motivos: primeiro, não reconhecer que as mulheres eram uma força a se contar com e que desenvolver sua militância era vital; segundo, apesar da militância, as trabalhadoras eram atrasadas – em termos de consciência política e experiência organizacional – em comparação aos homens. Dessas mulheres, Kollontai era certamente a que teve mais destaque. Mas ela não era tão isolada e única quanto algumas de suas primeiras biografias tendiam a sugerir (Farnsworth 1980; Porter 1980).


Um trabalho mais recente, que estudou outras mulheres (McDermid e Hillyar 1999; Clements 1997; Turton 2007) destacou que um grupo grande de mulheres trabalhava em conjunto. Vera Slutskaia fez sugestões similares mesmo antes de Kollontai retornar à Rússia. Mas é inegável que havia um medo bolchevique do feminismo/separatismo (vistos como idênticos). Assim, em vez de uma organização tal como um bureau, o que o partido concordou foi com o ressurgimento da Rabotnitsa e o trabalho das mulheres através do periódico. No entanto, a manifestação de 19 de março mostrou que o mundo não ficaria parado se os bolcheviques não intervissem, e isso provavelmente deu um empurrão. Uma militante operária, trabalhadora de bondes, chamada Rodionova, deu três dias de salário para iniciar a revista. Isto ocorreu em uma reunião onde 800 rublos foram coletados. A partir desse ponto, os editores começaram a contratá-la para trabalhar com a revista, fazendo algumas tarefas e, por fim, escrevendo para o periódico. Através deste processo, ela se tornou membro do partido.


Samoilova lecionava para as mulheres. Krupskaya, pouco depois de seu retorno à Rússia, começou a trabalhar nos setores educacional e de juventude em um distrito da classe trabalhadora de Petrogrado (Vyborg). Seu biógrafo RH McNeal (1973: 73) sugere que isso ocorreu porque ela achava duvidosa a linha de Lênin de chamar por uma revolução socialista. Isto se baseou em uma concepção da estratégia bolchevique que a transforma em uma conspiração para um golpe. Na verdade, a educação política era essencial para que a revolução fosse realmente a auto-emancipação da classe trabalhadora.

Rabotnitsa, independentemente das opiniões pessoais dos membros, desempenhou um papel vital na generificação da consciência de classe. Por um lado, desafiou os estereótipos sobre as mulheres. Por outro, o tipo de artigos e relatórios publicados mostrava que os trabalhadores masculinos e femininos não tinham as mesmas exigências e não enfrentavam as mesmas formas de exploração. Os bolcheviques também reconheceram que as atitudes patriarcais não estavam apenas dividindo a classe, mas também estavam sendo usadas pelos trabalhadores do sexo masculino para se posicionarem contra as mulheres em nome das necessidades da família, embora houvesse muitas mulheres que também chefiavam famílias. Assim, à medida que o ano foi passando, o gênero se tornou uma questão que tinha que ser abordada entre as classes, e não apenas com as trabalhadoras. Os bolcheviques lutaram para conseguir representação para as mulheres nos comitês das fábricas, o que obviamente significava convencer os homens a votar nas mulheres. A partir de junho, houve pedidos de representantes dos trabalhadores masculinos para lidar com a perda de empregos, protegendo os empregos dos homens em detrimento dos das mulheres, supostamente porque os salários das mulheres eram suplementares, enquanto os homens eram os principais provedores. Os bolcheviques e o sindicato dos metalúrgicos lutaram juntos contra isso, mas enfatizaram a unidade de classe, e não a igualdade de gênero (McDermid e Hillyar, 1999: 168).


As trabalhadoras estavam cientes dos problemas que enfrentavam. Tsvetskova, uma mulher da indústria do curtume, escreveu em um jornal sindical que se o socialismo não levasse em consideração as vozes das mulheres, criaria uma sociedade com atitudes negativas em relação às mulheres. Outra mulher, A Ilyina, escrevendo no Tkach, periódico do sindicato dos trabalhadores têxteis, destacou que os trabalhadores do sexo masculino podiam participar de reuniões ou dar um passeio depois do trabalho, enquanto as mulheres tinham que realizar árduos trabalhos domésticos. Ela associou o trabalho doméstico à palavra russa para “trabalho árduo”, "barshchina", que significava o trabalho de um servo (Smith 1986: 155–73).


Depois das Jornadas de Julho [4], o Partido Bolchevique estava sob ataque. Lênin foi caluniosamente acusado de ter roubado ouro alemão e teve que se esconder. Trótski e vários outros foram presos. O Pravda teve que ser fechado. Por um tempo, o partido dependeu da Rabotnitsa.


Após as Jornadas de Julho, veio a derrota militar e, em seguida, a tentativa do general Kornilov de realizar um golpe. Estes eventos aumentaram o descontentamento popular com o governo provisório, no qual os Mencheviques e o SR's estavam integrados inteiramente; ele era agora dirigido por Kerensky e não mais por Príncipe Lvov. Como resultado, o apoio aos bolcheviques aumentou, inclusive entre as trabalhadoras. As mulheres lutaram junto com os homens para rechaçar as forças do general, construindo barricadas e organizando ajuda médica ao formar as Red Sisters (McDermid e Hillyar 1999: 179).


A posição das feministas liberais era exatamente o oposto. Elas apoiaram a guerra. Uma parte dessas mulheres via o ingresso no exército e a luta pela guerra como a questão principal da igualdade. Mas isso levou a um aumento do abismo entre as mulheres burguesas (ou intelligentsia) e a massa de mulheres da classe trabalhadora, das pequeno-burguesas pobres e camponesas que queriam o fim da guerra. Maria Bochkareva, uma mulher que era uma patriota comprometida e que servira como soldado na guerra, solicitou ao governo provisório a criação de unidades militares femininas em maio de 1917. A ideia recebeu apoio imediato, principalmente de mulheres da classe alta. A própria Bochkareva não via isso como uma maneira de defender a causa das mulheres, mas muitas feministas viam. Um batalhão de mulheres foi formado. Feministas como Olga Nechaeva e Ariadna Tyrkova tentaram aproveitar a iniciativa de Bochkareva, propondo ao primeiro-ministro que mulheres com idade entre 18 e 45 anos fossem convocadas para o serviço estatal, a fim de substituir os homens que poderiam estar disponíveis para recrutamento militar. Das 3.000 tropas com base no Palácio de Inverno em Petrogrado para proteger os ministros do Governo Provisório, aproximadamente 200 eram do batalhão de mulheres. Naquele momento, o governo havia se tornado tão isolado que havia pouca confiança em sua sobrevivência. E, em uma Rússia cansada da guerra, a atitude das mulheres da classe trabalhadora em relação a esse batalhão era de desprezo e não de irmandade. No entanto, a acusação de estupro em massa dos membros do Batalhão da Morte foi contestada por historiadores como Stites, embora se diga que três mulheres foram agredidas sexualmente (Shukman, 1988: 36).


Estereótipos desafiados


Em novembro de 1917, Kollontai, Samoilova e outras organizaram uma reunião de trabalhadoras para discutir as eleições para a Assembleia Constituinte, mais de 500 delegadas foram eleitas por mais de 80.000 mulheres em 70 reuniões preparatórias. Assim, como a insurreição de outubro estava estabelecendo uma nova ordem, havia também o reconhecimento de que uma estrutura separada para as mulheres não era separatismo, mas uma tremenda necessidade. Ao mesmo tempo, os bolcheviques não assumiram a posição de que as mulheres eram incapazes de lutar. Em vez disso, eles enfatizavam a questão de por qual classe e por qual objetivo as mulheres deveriam lutar. Embora numericamente minoria, as mulheres armadas nos Guardas Vermelhos eram consideravelmente mais numerosas do que as mulheres que lutavam pela contrarrevolução. Slutskaia desempenhou um papel fundamental na organização do levante no distrito de Moscou em Petrogrado, como fizeram LR Menzhinskaia e DA Lazurkina no distrito de First City e AI Kruglova no distrito de Okhta. As jovens trabalhadoras do partido, Liza Pylaeva e Evgeniia Gerr, eram membros dos Guardas Vermelhos. A condutora de bondes, Rodionova, que havia escondido 42 rifles e outras armas em seu depósito após as Jornadas de Julho, foi responsável em outubro por garantir que dois carregamentos de metralhadoras fossem disparados para o assalto ao Palácio de Inverno (McDermid e Hillyar, 1999: 185-86). Isso estabeleceria as bases para um número significativo de mulheres que se uniriam ao Exército Vermelho em 1918–20. Durante 1917–20, então, os estereótipos foram desafiados e, mesmo que em minoria, as mulheres tiveram um papel notável na revolução.


Embora um estudo de eventos além de 1917 esteja fora do alcance deste ensaio, precisamos enfatizar que os primeiros anos da revolução tiveram grandes avanços. Isso se reflete não apenas no processo legislativo, mas também nas maneiras práticas pelas quais foram feitas tentativas de abordar os direitos das mulheres, a questão da igualdade material, a questão das sexualidades marginalizadas e assim por diante, apesar de uma guerra civil e diante de tremendas dificuldades. No entanto, em nenhum momento este foi um processo sem contestações. Goldman e Wood têm avaliações diferentes nos primeiros anos, mas ambas concordam que até o final da década de 1920 houve um claro declínio no espaço para as mulheres. Contudo, seria um erro considerar o bolchevismo cego ao gênero ou assumir que o apoio bolchevique às causas das mulheres era puramente instrumentalista. Conflitos agudos ocorreram na década de 1920 e os direitos das mulheres também figuravam ali. Isso se torna aparente quando se olha para a tentativa de transformar a sociedade dos estados da Ásia Central (com grandes populações islâmicas), a nova lei de família e os debates em torno dela, questões relativas a camponeses e terras durante as discussões sobre a Nova Política Econômica [NEP], ou a questão da igualdade de gênero dentro do partido. Antes, é necessário olhar a ascensão da nova burocracia soviética, e ver gênero como uma das áreas onde o retrocesso foi realizado mais cedo (Marik 2008: 419-27, 487-88; Goldman 1993: 337).


Soma Marik (1962-) é Professora Associada de História, RKSM Vivekananda Vidyabhavan, West Bengal, e ex-Professora Visitante, School of Women's Studies, Jadavpur University. Ela publicou extensivamente sobre marxismo, a revolução russa, mulheres comunistas na Índia e também comunalismo na Índia. Ela tem sido uma ativista dos movimentos de libertação e de direitos das mulheres por mais de três décadas.


Fonte: Historical Materialism de Economic & Political Weekly Russian Revolution Centenary special.


Notas de rodapé

[1] Ver, por exemplo, Blackledge (2010).

[2] Em 9 de Janeiro de 1905 pelo calendário russo (22 Janeiro pelo calendário gregoriano), manifestantes desarmados foram alvejados pela Guarda Imperial enquanto marchavam até o Palácio de Inverno para apresentar uma petição ao czar. A manifestação com cerca de 50.000 foi repetidamente atingida e estima-se que entre 1.000 e 4.000 manifestantes foram mortos ou feridos. O dia passou a ser chamado de Domingo Sangrento e transformou a imagem do czarismo na Rússia e levou à agitação popular em todo o país. A Revolução de 1905 foi desencadeada pelo Domingo Sangrento, e viu, no verão de 1906, a execução de cerca de 15.000 trabalhadores e camponeses e o envio de 45.000 pessoas ao exílio (Sablinsky 1976; Ascher 2004; Trotsky 1971; Harcave 1964).

[3] Duma refere-se à baixa câmara da legislatura estabelecida após a Revolução de 1905, que durou de 1906 a 1917...

[4] As Jornadas de Julho assistiram a uma semi-insurreição que começou contra a recomendação dos bolcheviques, que continuaram a apoiá-las porque acreditavam que abandonar trabalhadores e soldados seria um grande erro. Terminou com uma retirada confusa e uma derrota.


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