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Leninismo e organização hoje (Paul Le Blanc)



Leninismo e organização hoje

(14 de março, 2013)

Paul Le Blanc

Tradução de Aline Navarro

Revisão de Pedro Barbosa



Paul Le Blanc responde a uma crítica do leninismo que acusa o método de Lenin de construção partidária de não poder ser aplicado para revolucionários ativos hoje em dia.


Eu aprecio o espírito camarada da contribuição de Joaquín Bustelo na discussão (“Não há modelo universal de leninismo” [1]). As questões que ele levanta são importantes – do ponto de vista das políticas revolucionárias e também do ponto de vista da história revolucionária. É possível estar errado em um [ponto de vista] e certo em outro, no entanto eu argumentarei que meu velho camarada está parcialmente errado em um (políticas) e inteiramente errado no outro (história).


Antes de proceder à discussão da história diante da qual o camarada Bustelo se equivoca, quero tocar no quadro político no qual essa discussão está tendo lugar.


Leninismo é um fim de linha?


Joaquín nos conta: “Baseado nas nove décadas desde que Lenin caiu em silêncio, eu penso que o veredito da atual experiência está bem claro… O que nós viemos a conhecer como ‘leninismo’ é um fim de linha que ‘bloqueou o nosso próprio caminho para o sucesso futuro’.”


Uma chave, com certeza, é a frase “o que nós viemos a conhecer como leninismo.” Existe mais de um jeito de entender o leninismo.


Ao longo dos anos, milhões de pessoas ao redor do mundo tinham um entendimento stalinista (antidemocrático, burocrático, algumas vezes oportunista de modo assassino) a respeito do “leninismo”, e isso certamente era, de múltiplas formas, uma barreira para qualquer sucesso revolucionário genuíno. Mas, para alguns, existe a noção de que o “entendimento” stalinista a respeito do leninismo é exato, e isso frequentemente se torna um argumento contra qualquer tipo de política revolucionária (que é precisamente o que o próprio Lenin representou).


Na esquerda, existem alguns que promovem aquela noção anti-leninista a fim de sustentar um reformismo social-democrata que parece razoável a muitos, até que se atinja o muro da crise capitalista e os ataques de austeridade, sem mencionar a guerra imperialista; e geralmente se prova a sua incapacidade de fazer mais do que se adaptar a tais coisas.


Outros na esquerda veem as limitações do reformismo, e demarcam uma postura mais revolucionária que se combina, mesmo assim, com uma rejeição similar do leninismo. O resultado, geralmente, envolve uma prática política-pessoal muito moralista, combinada com esperanças românticas de levantes espontâneos – que periodicamente são gerados pela crise capitalista e opressão, mas que (sem um programa político prático e estruturas organizacionais adequadas) tenderam a se dissipar, finalmente, como grandes torrentes de vapor. Quando o vapor desaparece, nada resta a não ser esforços reformistas e o status quo capitalista.


Uma das grandes forças do Manifesto Comunista, dos escritos de Rosa Luxemburgo e dos escritos do Lenin real – todos baseados em uma considerável experiência de lutas de classes – é que eles oferecem algo a mais. O objetivo não era sustentar a história sem fim (com o capitalismo sendo a permanente “realidade” e o anticapitalismo sendo uma rebelião perpétua). Nem simplesmente empilhar um acúmulo de esforços de reforma, alguns dos quais fariam as coisas um pouco melhor por um tempo. Nem era o objetivo criar um universo escapista de pequeno grupo, de espírito politicamente puro.


O objetivo era conduzir uma classe trabalhadora de inclinação socialista ao poder político – para iniciar uma verdadeira transição ao socialismo. E aqueles ao redor de Lenin há cem anos atrás parecem ter entendido isso certo, ao menos inicialmente, com a Revolução Russa de 1917.


Desafios que nós encaramos


Um dos grandes desafios para os revolucionários é que as conquistas heróicas da Revolução Russa e o maravilhoso movimento de massas operário revolucionário associado a ela (não apenas na Rússia, mas ao redor do mundo todo) não persistiram. Porém, o capitalismo persistiu, com bastante sucesso e se impondo destrutivamente em nosso próprio tempo, deixando apenas diluídos e fragmentados elementos da esquerda da classe trabalhadora que cumpriram um papel tão importante em tempos anteriores.


Bustelo e outros rejeitaram o leninismo em parte por suas próprias experiências com grupos que reivindicaram o manto lenininista enquanto explicitamente rejeitavam o stalinismo. O problema era que esses grupos abraçaram um entendimento muito artificial das ideias Leninistas.


É assim que ele e Louis Proyect [2] explicam sua perspectiva: que o próprio Lenin não era “leninista”. Tendo passado por essa experiência, eu penso que existe muito de positivo nessa orientação deles, que inclui uma insistência de que nenhum pretenso revolucionário é digno desse nome se ele ou ela preferem se agarrar a algum universo de pequeno grupo “leninista” como uma alternativa para se engajar nas atuais e potenciais lutas de massas do nosso tempo.


Tais lutas são parcialmente descritas na nova versão do relato jornalístico valioso de Paul Mason, Por que continuam estourando em todos os lugares: as novas revoluções globais (Verso, 2013), passando da Primavera Árabe às lutas de massas contra a austeridade neoliberal, o Movimento Occupy e mais. Claro, aspectos do que Mason descreve são eventos que alguns de nós estivemos intimamente envolvidos, e muitos de nós sentimos ardorosamente a necessidade de fazer melhor do que o que tínhamos sido capazes de fazer até então.


Nós nos deparamos com a questão de como podemos chegar de onde estamos a onde precisamos ir. Eu argumentei que a tradição de Lenin e seus camaradas é um recurso para nós.


Bustelo e Proyect nos contam que aquela tradição é um fim de linha. Me parece que eles escolheram explicar o “como e por que” de suas próprias experiências negativas e do dilema histórico diante do qual estamos com uma narrativa extremamente simples – o problema é o leninismo. A narrativa deles tenta “salvar” Lenin de associações com aspectos significativos de seu próprio pensamento e exemplo político, e com um valioso coletivo de revolucionários globais reunidos na Internacional Comunista.


Só podemos esperar que se for demonstrado que o próprio Lenin estava intimamente associado com o “leninismo” que eles rejeitam agora, eles serão estimulados a repensar tal rejeição, em vez de ampliá-la para incluir o próprio Lenin (como tantos outros fizeram).


Uma maneira de ver o leninismo


O camarada Bustelo, junto com os outros, nunca define bem o leninismo que está rejeitando. Talvez isso seria útil definir o que estou defendendo.


O ponto de partida bastante não original de Lenin (compartilhado com Marx, o jovem Kautsky, Luxemburgo por toda a sua vida, e outros) é uma crença na necessária interconexão entre a teoria e prática socialistas com a classe trabalhadora e o movimento operário. A classe trabalhadora não pode defender adequadamente seus reais interesses e superar a sua opressão, em sua visão, sem abraçar o objetivo do socialismo – um sistema econômico no qual a economia é propriedade social e democraticamente controlada a fim de satisfazer as necessidades de todas as pessoas.


Essa orientação fundamental é a base para a maior parte do que Lenin tinha a dizer, o que conjuntamente constitui o “leninismo” de Lenin. O escopo de seus escritos políticos abrange vários aspectos do movimento operário: consciência de classe e cultura, sindicatos, movimentos sociais por reformas, a relação entre reforma e revolução, lutas eleitorais, dinâmicas de construção partidária, coalizões de frente única, alianças de classe (especialmente a aliança operário-camponesa), a interação entre as lutas democráticas e socialistas, questões de nacionalismo e imperialismo, meios de utilizar a teoria marxista e mais.


Lenin, não empenhado em ser “inovador”, não inventou tudo isso, embora ele fosse um pensador criativo que desenvolveu certas linhas de pensamento – isso pode ser demonstrado – de maneiras que foram diferentes de muitas outras no campo intelectual marxista. Em todo caso, ele juntou os elementos resumidos acima de uma maneira que teve um impacto poderoso na sua Rússia natal e ao redor do mundo.


Bustelo, Proyect e outros tendem a focar, em sua discussão do leninismo, em questões organizacionais. Pode ser que eles concordariam que a visão de Lenin nestas questões envolvia uma concepção coerente de organização que é prática, democrática e revolucionária. Eles poderiam argumentar que tais noções também prevaleceram entre as melhores do marxismo da Segunda Internacional – e eu concordaria com isso.


Mas eu argumentaria que Lenin, em seu trabalho prático, no que fez para construir a organização Bolchevique, contribuiu com novos elementos que eram inteiramente consistentes com o melhor do marxismo da Segunda Internacional, mas que ajudaram os Bolcheviques a fazer o que a maioria das organizações da Segunda Internacional se mostraram incapazes de fazer. Lenin e seus co-pensadores passaram então a colocar suas ideias dolorosamente adquiridas na internacional revolucionária que eles tentaram criar na ressaca da Primeira Guerra Mundial.


Isso é uma aquisição preciosa demais para os revolucionários de hoje e de amanhã deixarem de lado. E ainda quando Bustelo, Proyect e outros rejeitam a Internacional Comunista (que eles estão muito inclinados a ver como o instrumento de um aparentemente proto-stalinista Grigori Zinoviev, o limitado mas injustamente difamado, presidente da Comintern [Internacional Comunista]), eles deixam de lado contribuições incrivelmente importantes.


As teses da Comintern de 1921 sobre organização


Isso nos traz às teses da Comintern de 1921, “A estrutura organizativa dos Partidos Comunistas, os métodos e o conteúdo de seu trabalho”, que o camarada Bustelo ataca. Se consultarmos a correspondência de Lenin nesse período, podemos ver que essas teses foram apresentadas no Terceiro Congresso da Internacional sob insistência de Lenin.


Não só Lenin ajudou a moldar as teses, como ele também as defendeu depois que foram adotadas (veja suas cartas a Otto Kuusinen e Wilhelm Koenen em Collected Works, Volume 42, 316-319, e a Gregory Zinoviev em Collected Works, Volume 45, 185-186, onde ele diz que leu as teses “com grande prazer”, considerou o documento como sendo “um trabalho muito bom”, ofereceu comentários para melhorias nas teses, e pressionou urgentemente Zinoviev de que era “necessário” que o documento fosse “apresentado nessa conferência sem falta”).


Ainda de acordo com Bustelo, no ano seguinte o próprio Lenin atacou causticamente este mesmo documento. Ele nos pergunta: “Pode uma denúncia ser mais forte do que ao dizer que uma resolução diminui as perspectivas para a revolução mundial? Quão maior um repúdio pode ser do que ao dizer que com essa resolução ‘nós bloqueamos nosso caminho para o sucesso futuro’.”


Isso certamente nos dá um quebra-cabeça – de que Lenin estava tão severamente denunciando o seu próprio trabalho do ano anterior. O que poderia explicar uma coisa dessas?


O que poderia explicar isso é que Bustelo compreende mal a crítica de 1922 feita por Lenin. Mesmo se lermos cuidadosamente a citação de Lenin que ele nos apresenta, vemos que Lenin afirma, de fato, que “a resolução é excelente”. De fato, Bustelo corta alguns dos elogios de Lenin: “a resolução é excelentemente redigido; estou preparado para assinar todos os 50 ou mais pontos”.


É verdade, como Bustelo diz, que Lenin a criticou por ser muito longa e “muito russa” – mas ele continuou para explicar (numa passagem também não citada por Bustelo) que “nós não aprendemos como apresentar nossa experiência russa para os estrangeiros”.


O grande engano que “bloqueou o caminho para o nosso sucesso futuro”, de acordo com Lenin, foi que “os camaradas estrangeiros a assinaram sem lê-la e entendê-la”. Longe de denunciar e repudiar a resolução, Lenin disse: “Essa resolução deve ser cumprida. Ela não pode ser cumprida de um dia para o outro, isso é absolutamente impossível”. Ele repetiu que “a resolução é muito russa, ela reflete a experiência russa”.


Em vez de dizer que a resolução deveria, portanto, ser derrubada, ele concluiu que os camaradas estrangeiros “devem assimilar parte da experiência russa” (para essas passagens do discurso de Lenin, veja John Riddell, ed., Toward the United Front: Proceedings of the Fourth Congress of the Communist International, 1922, 303-305).


Bustelo, como tantos outros, fornece citações seletivas do discurso de Lenin de 1922 sobre as teses de 1921, mas não fornece um exame sério das próprias teses. Um excelente resumo do problema é fornecido em um ótimo ensaio, “Democracia partidária na Comintern de Lenin – e pequenos grupos marxistas hoje” [3], de John Riddell, o eminente cronista da jovem Internacional Comunista:


A Comintern e seus partidos buscaram funcionar de acordo com as normas do “centralismo democrático”. Esse termo foi entendido como significando democracia proletária na tomada de decisões e na escolha de líderes, combinada com uma unidade para executar um curso de ação decidido. Os marxistas têm praticamente a mesma concepção hoje. Mas na jovem Comintern, o foco era diferente: sua principal preocupação era combater o burocratismo e o eleitoralismo.

As principais unidades constituintes dos partidos da Comintern de fora da Rússia saíram do antigo movimento social-democrata. Esses partidos componentes cortaram suas asas reformistas, mas ainda preservaram muito das antigas estruturas e hábitos partidários. Os partidos dos quais vieram tinham dedicado suas energias principalmente a campanhas eleitorais e trabalhos educativos associados. Eles foram liderados por uma camada burocrática de funcionários, enraizados sobretudo em frações parlamentares, aparelhos jornalísticos e lideranças sindicais aliadas.

O centralismo democrático da Comintern buscou quebrar o alça do burocratismo. Ele visava trazer os trabalhos parlamentar, jornalístico e sindical para debaixo do controle do partido; unificar liderança e base em um movimento homogêneo; e equipar o partido para intervir nas lutas de massas.

A necessidade de fazer essa transição é o tema primordial da resolução sobre organização de 1921 [4], da Comintern. A seção da resolução sobre centralismo democrático denuncia partidos nos quais “funcionários se alienaram dos membros, uma vibrante colaboração tenha sido substituída pelas meras formas de democracia e as organizações se dividiram entre funcionários ativos e massas passivas”.

A resolução salienta a obrigação dos membros de serem ativos e se organizarem em linhas que os permitiriam levar a cabo a política do partido em organizações operárias de massa. Ela exigia “laços vivos e inter-relações tanto dentro do partido, entre os órgãos dirigentes e o resto dos membros, e também entre o partido e as massas de proletários fora de suas fileiras.


Forças das teses de 1921


Me parece que os tipos de excelentes e não dogmáticos apontamentos que Lenin faz em escritos como Esquerdismo, doença infantil do comunismo [1920] encontram seu caminho nesse documento.


Longe de um esforço dogmático de impor “o modelo Russo” em todos os partidos comunistas, por exemplo, existe essa insistência na relativa autonomia nacional:


Não existe forma absoluta de organização que seja correta para partidos comunistas em todos os tempos. As condições da luta de classes proletária estão mudando constantemente, e então a vanguarda proletária tem sempre de estar procurando por formas efetivas de organização. Da mesma forma, cada partido deve desenvolver suas próprias formas de organização para responder às particulares condições historicamente determinadas dentro do país.


E depois, há essa insistência na autoridade da liderança estando enraizada em flexibilidade e contato íntimo com a classe trabalhadora real e suas lutas:


Para liderar a luta de classes revolucionária, o Partido Comunista e seus órgãos dirigentes devem possuir grande poder de luta e, ao mesmo tempo, a habilidade de se adaptar às condições mutáveis da luta. Uma liderança bem-sucedida pressupõe, além disso, o contato mais íntimo com as massas proletárias. A menos que tal contato esteja estabelecido, os líderes não vão liderar as massas, mas, no melhor dos casos, apenas segui-las.


Esta insistência na participação das lutas reais e cotidianas da classe trabalhadora – um ponto principal enfatizado no documento – está no coração do que muitos de nós estamos argumentando no aqui e agora contra os universos auto-limitados de várias seitas pretensamente “leninistas”. Não deveríamos negligenciar quando o documento diz coisas tais como estas:


Comunistas cometem um erro grave quando se mantêm passivamente afastados, são desdenhosos ou se opõem à luta diária dos trabalhadores por pequenas melhorias nas condições de sua vida com a justificativa de que têm um programa comunista e que seu objetivo final é a luta armada revolucionária. Por mais limitadas e modestas que sejam as demandas pelas quais os trabalhadores estão dispostos a lutar, isso não deve jamais ser uma justificativa para os comunistas se afastarem da luta. Nossa atividade de agitação não deveria transmitir a impressão de que nós comunistas fomentamos greves apenas por fazê-lo e que aprovamos qualquer tipo de ação inconsequente. Ao contrário, devemos ganhar a reputação entre os trabalhadores militantes de sermos seus camaradas de luta mais valiosos.


Um dos aspectos mais importantes do documento é seu aviso contra o mesmo tipo de centralismo que tem muito frequentemente sido apresentado como “leninismo”:


O centralismo democrático da organização do Partido Comunista deveria ser uma síntese real, uma fusão de centralismo e democracia proletária. Esta fusão só pode ser alcançada quando a organização do partido trabalha e luta em todos os tempos conjuntamente, como um todo unificado. Centralização no Partido Comunista não significa centralização formal e mecânica, mas a centralização da atividade comunista, isto é, a criação de uma liderança que seja forte e efetiva e, ao mesmo tempo, flexível.

Centralização formal ou mecânica significaria a centralização de ‘poder’ nas mãos da burocracia partidária, permitindo-a dominar os outros membros do partido ou as massas proletárias revolucionárias que estão fora do partido…


Como nota John Riddell, a resolução critica a falta de democracia genuína (em oposição a “formal”), uma deficiência comum nos partidos da Segunda Internacional. Nos diz:


As mesmas divisões emergiram nas antigas organizações do movimento operário não-revolucionário, assim como existiram na organização do estado burguês: a divisão entre a “burocracia” e as “pessoas”. Sob a influência paralisadora do ambiente burguês, uma separação de funções ocorreu; a democracia formal substituiu a participação ativa dos trabalhadores e a organização foi dividida entre os funcionários ativos e as massas passivas. Mesmo o movimento operário revolucionário não escapou inteiramente da influência do ambiente burguês e dos males deste formalismo e divisão.


Avisos contra o tipo errado de centralismo são repetidos mais de uma vez: “A centralização máxima da atividade partidária não será alcançada construindo um sistema esquemático e hierárquico de liderança com um grande número de organizações partidárias, cada uma subordinada à sua superior”.


Ao invés disso, comitês eleitos democraticamente em distritos e regiões da classe trabalhadora deveriam dirigir o trabalho da organização em tais localidades, sugerindo um alto grau de autonomia relativa dentro da organização. Isso é projetado como uma maneira de fornecer liderança política de modo a garantir “que o contato íntimo é mantido entre a liderança e as amplas massas de membros do Partido” nas várias localidades.


Também, o direito de formar tendências e frações minoritárias é admitido, é claro, por exemplo nessa passagem: “desacordos táticos sérios que aparecem nas eleições para o órgão central não devem ser ignorados; ao contrário, devem ser discutidos pelo órgão central, do qual representantes competentes da visão minoritária devem ser membros”.


Envolvimento crítico


A resolução enfatiza a necessidade de participação ativa de todos os membros na organização para substituir dinâmica de “funcionários ativos e massas passivas”. Se eu tivesse uma crítica a fazer ao documento, seria a de que ele apresenta um ideal não realista com essa formulação questionável: “Um Partido Comunista, a fim de assegurar que seus membros estejam realmente ativos, deve exigir que eles dêem todo o seu tempo e energia ao trabalho partidário.”


Todo o seu tempo e energia? Se eu fosse capaz de usar uma máquina do tempo e voltar a 1921, isto seria algo que gostaria de levantar e argumentar sobre com os camaradas.


Ao mesmo tempo, essa passagem problemática se levanta como um desafio para aqueles de nós que estão enredados na complexa, frequentemente sedutora e incrivelmente destrutiva cultura do aqui e agora capitalista. Pessoalmente, o que eu realmente faço, ou falho em fazer, para trazer a tona a sociedade melhor na qual acredito? O que será preciso para criar movimentos e lutas para a transição do capitalismo ao socialismo? Como posso me sustentar, como podemos nos sustentar, de modos que nos ajudarão a fazer o que deve ser feito? Como revolucionários podem ajudar a criar culturas de resistência que irão ajudar a sustentar mais e mais pessoas a afastar a opressão capitalista?


Estas e outras questões importantes não são de forma alguma respondidas por este documento de nove décadas atrás. Mas pode ser uma ferramenta (como podem ser outros escritos de Lenin e de seus camaradas) a nos ajudar a avaliar o que deve ser feito.


Existem qualidades positivas na resolução de 1921 da Internacional Comunista e também pontos e passagens que merecem um exame mais crítico, mas eu espero que o que ofereci aqui dê uma ideia da contribuição que esse muito difamado documento pode fornecer à importante discussão sobre a construção de organizações revolucionárias na qual muitos de nós estamos hoje envolvidos.


Notas

1. BUSTELO, Joaquín. “Não há modelo universal de leninismo”: https://socialistworker.org/2013/03/12/no-universal-model-of-leninism

2. PROYECT, Louis. “Leninismo está acabado: uma resposta a Alex Callinicos”: https://louisproyect.org/2013/01/28/leninism-is-finished-a-reply-to-alex-callinicos/

3. RIDDELL, John. “Democracia partidária na Comintern de Lenin – e pequenos grupos marxistas hoje”: http://links.org.au/node/3229

4. Resolução sobre organização do Terceiro Congresso (1921) da Internacional Comunista: “A estrutura organizativa dos Partidos Comunistas, seus métodos e o conteúdo de seu trabalho” (teses): https://www.marxists.org/history/international/comintern/3rd-congress/party-theses.htm

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